Um casarão secular e que quase virou ruína, no bairro de Paissandu, área central do Recife, está perto de ter a primeira etapa de restauração concluída. Localizado na Avenida Portugal, é um Imóvel Especial de Preservação (IEP). Significa que é protegido pela gestão municipal e qualquer intervenção nele necessita da anuência do poder público.
De estilo eclético, a edificação pertence à Rede D’Or São Luiz, dona do Hospital São Marcos, existente na mesma rua. Na casa funcionou, entre as décadas de 1950 e 1980, uma residência para estudantes mulheres que cursavam graduações na área de saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na fachada há as letras UR, que podem remeter à sigla da Universidade do Recife, antigo nome da UFPE. Quando estiver totalmente recuperado, o prédio será usado como um centro médico.
A restauração, financiada pela rede de hospitais (o valor não foi divulgado), começou em novembro do ano passado e deve ter a primeira fase encerrada em outubro. A degradação do prédio, que tem dois pavimentos, foi tanta que não havia mais telhado e a maioria dos ornamentos (enfeites colocados em cima das portas e janelas e nas fachadas) estavam estragados. Estima-se que o imóvel tenha sido construído no fim do século 19.
“O casarão chegou a um estágio muito precário. Não tinha telhado, nos forros encontramos água, o piso já não existia, havia vegetação e perda significativa de portas e janelas”, diz a arquiteta Renata Lopes, responsável pela obra, com o arquiteto Pedro Valadares.
A primeira ação foi salvar os ornamentos. “Estavam quase como um paciente na UTI”, compara Renata Lopes. Os restauradores classificaram as peças em três níveis de risco: alto, médio e baixo. Depois, catalogaram 22 tipos diferentes (em formato de flores, folhas e de leão). Os ornamentos foram retirados e serviram como molde para composição de formas de silicone e de gesso usadas na fabricação das novas peças. “Só não conseguimos salvar um”, conta.
Na construção original, os adornos eram presos com ferro. Com o desgaste do prédio, foram se oxidando. Desta vez, serão usados pinos de aço inox para grudá-los nas paredes. Outros dois elementos decorativos – duas pinhas portuguesas colocadas no alto da fachada frontal – vão ser repostas. São de porcelana e adquiridas em Petrópolis (RJ).
O telhado, refeito em madeira, não tem nenhum prego, é todo com encaixe. As telhas, francesas, são de demolição (reaproveitadas de outro imóvel). Com autorização da prefeitura, uma parte do prédio que não era da construção original foi demolida. O trabalho prevê ainda a recuperação do forro decorado com peças de gesso. “É de muita valia a devolução desse bem cultural ao Recife. É um exemplar notável devidamente salvaguardado em uma área tão nobre como o Paissandu”, destaca.
A previsão da Rede D’Or é iniciar a segunda fase da obra no primeiro semestre de 2019. “A importância da restauração do casarão é resgatar valores culturais e históricos do Paissandu e região, aliado ao benefício do atendimento de saúde à população pernambucana”, ressalta o diretor do Hospital São Marcos, médico Miguel Porto.