Litoral Norte cheio de problemas para o verão

Chegada extraoficial do verão expõe antigas falhas ao longo dos 187 km de faixa de praias do Estado
Leonardo Vasconcelos
Publicado em 07/09/2018 às 7:18
Foto: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem


Céu azul, mar claro, areia branca e muito calor. É a paisagem idealizada por quem vai curtir nas praias pernambucanas o verão que começa extraoficialmente nesta sexta (7) (para todo o país apenas no dia 21 de dezembro). No entanto, quem for aproveitar a chegada da estação nos 187 quilômetros de litoral pernambucano vai encontrar um cenário bem diferente dos cartões postais. Estradas esburacadas, acessos pagos, lixo na areia e esgoto sendo jogado no mar fazem parte da triste realidade que será encontrada pelos turistas. A equipe do JC percorreu em quatros dias as principais praias do Litoral do Estado para mostrar o que está à espera de quem vai pegar a estrada para curtir a estação do sol. Nesta quinta (6), a situação do sempre pouco lembrado Litoral Norte. Amanhã é a vez do badalado, mas também problemático, Litoral Sul.

Desencantos de Itamaracá

Itamaracá, no Grande Recife, entra no período do sol tendo resolvido dois grandes problemas – de acesso e de turismo – este ano. As obras de recuperação da Ponte Getúlio Vargas, única ligação da ilha com o continente pela PE-35, foram concluídas no fim de maio. A via, antes marcada pela péssima estrutura e grandes congestionamentos, agora está com a circulação de veículos e pedestres totalmente liberada. O principal cartão-postal da ilha, o Forte Orange, foi reaberto por completo em julho, depois de um grande atraso nas obras de reestruturação iniciadas em 2014 e que estavam previstas para acabar no ano seguinte.

Mas não se engane, nem tudo está ok na famosa “ilha encantada” declamada por Reginaldo Rossi. Basta ir para o outro lado da fortificação para se desencantar. Lá a equipe de reportagem do JC encontrou lixo e mato acumulado junto à muralha. Quem visita as outras partes da ilha nem precisa procurar por problemas: eles se escancaram bem na frente do veranista, como no bairro de Jaguaribe, por exemplo, onde se encontra muito lixo acumulado bem na entrada da praia e esgoto escorrendo em vários pontos na areia da praia, bem ao lado da área dos (corajosos) banhistas e comerciantes que enfrentam um terrível mau cheiro.

Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), consta na programação da entidade a execução da operação tapa-buracos nos quatro quilômetros da rodovia no trecho em Itamaracá, que vai do Forte Orange ao entroncamento com a PE-035.

Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Casas à venda são retrato do descaso

Quem chega a Ponta de Pedras, no município de Goiana, no Grande Recife, até se encanta. De longe, pela PE-49 que se apresenta em condições medianas, a praia exibe um visual bonito com sol a pino e águas claras. Mas basta se aproximar para ter um choque de realidade. O orla se encontra em total abandono, com várias casas de frente para o mar – antes disputadas pelo veranistas – entregues ao tempo com placas de “vende-se”. É só caminhar pela praia para descobrir a debandada de moradores e por consequência dos turistas. Em vários trechos se tem a impressão de estar andando em um lixão a céu aberto. Até com pneus se topa na areia.

Mas o que chama a atenção e revolta quem mora e trabalha na região é o esgoto sendo jogado diretamente no mar. Uma cena lamentável que se repete em mais de um ponto da praia. A colônia de pescadores do local, por ironia, instalada bem em cima de uma das canaletas de dejetos, reclama da falta de condições de trabalhar. A mancha escura dos resíduos na areia branca é um triste constraste de um destino turístico que antes atraia pessoas e agora só afugenta.

“Tenho 34 anos, nasci e me criei em Ponta de Pedras e esse esgoto sendo jogado no mar é uma coisa sempre houve. É uma nojeira só, fezes pela areia e na água, um mau cheiro horrível. A gente sofre pra pegar peixe e quando consegue e vai vender, o cliente não quer comprar quando sabe que é daqui. A praia está abandonada”, afirmou o pescador Jânio Rodrigues.

Trecho urbano também sofre

Para quem não quer se distanciar da capital, as praias de Maria Farinha, Pau Amarelo e Janga, todas em Paulista, no Grande Recife, costumam aparecer entre as mais visitadas, apesar dos problemas. O primeiro é o acesso. A obra de alargamento da Ponte do Janga, que teve início há mais de três anos, se encontra sem previsão de conclusão. O resultado é visto por quem passa na PE-01 e enfrenta enormes engarrafamentos.

Seguindo pela rodovia, a primeira parada depois do Janga, é na praia de Pau Amarelo. No trecho do Forte e em vários outros o problema é o avanço do mar que destruiu os paredões de contenção construídos pela prefeitura e afugentou comerciantes e turistas da área. Continuando pela PE-01 se chega até Maria Farinha, também em Paulista. O maior problema do local é mesmo o grande acúmulo de lixo. Em uma área, pouco antes do Veneza Water Park, os detritos se amontoam desde o acesso do estacionamento até a areia da praia. Quem vai curtir uma folga no local é só reclamação.

A Prefeitura do Paulista diz que a coleta de lixo no trecho citado acontece de segunda a sábado no período da manhã. Quanto ao avanço do mar em Pau Amarelo, a gestão afirma ter investido R$ 28 milhões em um dissipador de energia chamado bagwall com a proposta de estancar os estragos provocados pela força das ondas. A estrutura protege trechos críticos nas praias da cidade que somados chegam a quase 4 km. Com relação à Ponte do Janga, o governo do Estado afirma que, em julho, repassou R$ 1,1 milhão para os serviços. Ainda faltam R$ 4,4 milhões, que serão pagos, segundo a gestão estadual, em parcelas.

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