“O próximo ano (2019) será melhor para mim, porque Deus me deu meu marido de volta. Ele ficou com o rosto todo deformado, nem eu acreditava que ele estaria novamente em casa.” O desabafo, sem tom de revolta, é da dona de casa Luciene Leão Wanderley, 52 anos, casada há 35 anos com o flanelinha William José de Souza, 61, agredido sábado passado no Pina, Zona Sul do Recife.
Luciene Wanderley disse que não deseja o mal para o agressor, identificado pela polícia como Bruno Nunes Elihimas, 35, empresário e fisiculturista. “Eu apenas queria, quando esse homem fosse preso, que a delegada me botasse de frente com ele para eu perguntar por que ele tentou matar o meu marido. Eu imagino que o motivo foi preconceito porque William é negro”, declara.
O flanelinha foi atendido na UPA da Imbiribeira, bairro da Zona Sul da capital pernambucana, no sábado (29/12) e recebeu alta no domingo (30/12). Nesse mesmo dia, à tarde, passou por exames de imagens no Hospital da Restauração, na área central do Recife. Na próxima sexta-feira (04/01), William de Souza retornará ao HR para novos exames. Ele está com o rosto cheio de hematomas.
“Não perdi os dentes, mas todos estão moles e saíram do lugar, de tanto soco e chutes que levei na cara. Nunca vi esse homem, eu estava de costas quando ele me atacou, sem eu esperar, não sei a razão”, diz William de Souza, com dificuldades para falar porque os lábios estão inchados. Morador de Brasília Teimosa, bairro da Zona Sul do Recife, ele atua como flanelinha no Primeiro Jardim da Avenida Boa Viagem, no Pina, há mais de 30 anos.
Como guardador de carro, ele leva para casa, por dia, R$ 40, R$ 30, R$ 5. E completa a renda com os R$ 50 que recebe no fim de semana para passear com um cachorro duas vezes ao dia. É com esse dinheiro que o flanelinha sustenta esposa, filhos, netos e bisnetos. “Meu marido é um pai de família, uma pessoa do bem. Se for preciso, eu faço protesto, mas esse homem (o agressor) deve ser preso”, afirma Luciene Wanderley.