Rivânia Rogéria do Ramo Silva tinha 8 anos de idade em 2017 quando ouviu um conselho da avó: pegue o que você tem de mais precioso e coloque na mochila porque a enchente do rio vai inundar a casa. Antes que a água cobrisse metade da moradia, numa rua simples de Várzea do Una, distrito de São José da Coroa Grande, município do Litoral Sul de Pernambuco, ela salvou dois livros escolares (um de história e outro de ciências), duas mudas de roupa e um par de sandálias. “Eram os livros que estavam em casa, os outros estavam no colégio”, recorda a menina, dois anos depois do Rio Una transbordar e deixar um rastro de destruição no litoral e na Mata Sul.
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A história de Rivânia poderia ter passado despercebida no vaivém de jangadas que faziam o socorro das vítimas do alagamento. Mas a menina agarrada à mochila, molhada da cabeça aos pés, com frio e sozinha na embarcação conduzida por um jangadeiro comoveu Valter Rodrigues, morador do distrito. “Aquela foto de Rivânia aconteceu por acaso, eu estava registrando todos os fatos em Várzea do Una e me deparei com a cena, eu senti uma coisa pelo jeito que ela estava e fiquei registrando”, relata Valter Rodrigues. As imagens viralizaram. E mudaram a vida da garota que, mesmo sem saber ler naquele mês de junho de 2017, salvou os livros da inundação.
Ela ganhou uma casa do apresentador de TV Rodrigo Faro, livros do governo do Estado e de outros doadores, brinquedos, roupas, calçados e alimentos. O socorro imediato acabou criando uma rede de apoio mais perene. Rivânia foi transferida da Escola Municipal de Várzea do Una para um estabelecimento particular em São José da Coroa Grande, a Escola Bíblica Cristã. É aluna do 4º ano do ensino fundamental, está superando deficiências e consegue acompanhar a turma, de acordo com a atual professora, Syrleide Almeida.
A menina que salvou os livros está com os estudos assegurados até a faculdade, desde que mantenha a frequência na escola e o interesse no aprendizado. Um empresário com vínculos familiares em São José da Coroa Grande e residente no Sudeste do País, paga as mensalidades do colégio e se propôs a financiar a educação completa de Rivânia, informa Ângela Helena Lundgren de Melo, proprietária de uma pousada no município e uma das integrantes da rede de apoio. “Entendemos que o estudo seria o mais importante”, destaca Ângela Lundgren. Ela compra o fardamento e os livros escolares, além de manter contato com o colégio. “Não adianta só fornecer, fazemos o acompanhamento”, observa.
“De todas as doações, o estudo é o que vai ficar para Rivânia, a gente sempre conversa e explica para ela a importância de aproveitar essa oportunidade”, acrescenta Michele Belo, integrante da Associação de Turismo de São José da Coroa Grande e uma das fundadoras do grupo que assumiu a tarefa de ajudar a criança. Enquanto morava em Várzea do Una, a 10 quilômetros de distância da nova escola, um colaborador pagava o transporte individual para o deslocamento de Rivânia. Ela está matriculada na escola particular desde o segundo semestre de 2017.