Um grave acidente entre dois trens do metrô do Recife deixou várias pessoas feridas na manhã desta terça-feira (18), na estação Ipiranga, que fica na linha Centro. Por causa do acidente, a Linha Centro do Metrô está paralisada. A Secretaria Estadual de Saúde contabilizou pelo menos 60 vítimas, socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pelo Corpo de Bombeiros. Até agora, a identificação de nove pessoas foi divulgada.
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De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), 26 vítimas foram levadas para UPA da Imbiribeira. Dessas, seis já receberam alta até às 12h desta terça e 19 estão realizando exames ou em observação. Outras 14 vítimas foram socorridas para a UPA da Caxangá. Metade delas permanece em observação. A UPA do Curado recebeu 5 feridos e todos já receberam alta. Sete vítimas deram entrada na UPA do Ibura. Dessas, três receberam alta e quatro estão em observação.
Ainda segundo a SES-PE, o Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, área central do Recife, recebeu oito pacientes em sua unidade de trauma. A secretaria afirmou que todos as vítimas que deram entrada em suas unidades de saúde estão estáveis. Além dessas, o Samu socorreu duas pessoas para a Policlínica Agamenon Magalhães, uma para o Hapvida (1) e outra para o Unimed.
O Corpo de Bombeiros afirmou que nenhuma vítima apresenta risco de morte até o momento e todas já foram retiradas da plataforma do metrô e levadas até hospitais da cidade. Todas serão submetidas a exames de imagem, para avaliar possíveis lesões.
Hospital da Restauração
- Michele Morgan de Lima, de 40 anos;
- Elizabeth Paula de Souza, de 48 anos;
- Marcos Antônio Galdino da Silva, 43 anos;
- Sandra da Silva Alcântara Santos, 44 anos;
- Marivaldo Antônio Nascimento, de 19 anos;
- Lucas Cícero Santos da Silva, de 18 anos;
- Maria José da Silva Santos, 39 anos;
- Aldileide Dias Santos, 51 anos.
UPA da Caxangá
- Odenir de Souza Cardoso, 36 anos.
UPA da Imbiribeira
- Ivana Gabriela Pinheiro da Hora, 30 anos.
Causa
Um trem estava parado na estação quando outro, que vinha de Jaboatão dos Guararapes, bateu no veículo. O relato dos passageiros é de que, com a colisão, pessoas caíram por cima das outras, as luzes se apagaram e havia muito sangue nos vagões. Muitos usuários ficaram nervosos e chegaram a desmaiar.
O laudo técnico para saber o que ocasionou o acidente sairá em 15 dias, de acordo com o perito criminal do Instituto de Criminalística Haroldo Azevedo. O especialista conta que ainda não há suspeita sobre o que ocasionou o acidente.
Relatos
"Eu estava no último vagão vindo de Jaboatão e ia descer em Joana Bezerra, porque trabalho em Paulista. Minha sorte foi que eu estava sentada, o que é raro, e quando foi se aproximando da estação houve o impacto. Todo mundo caiu no chão, quem estava em pé não conseguiu se equilibrar. Ainda ajudei algumas pessoas a se levantar. Quando conseguimos descer do metrô, foi quando vimos a situação. O primeiro vagão de Jaboatão com o primeiro de Camaragibe, que estava parado, foi onde teve o maior estrago", contou a professora Joseana de Oliveira, de 51 anos, que usa metrô todos os dias.
"Foi muito rápido, quando vimos foi aquela colisão, gente caindo por cima dos outros, tudo apagou e parte do material do teto caiu. Parecia que o trem estava saindo dos trilhos. O pessoal começou a ficar nervoso, teve gente que desmaiou dentro do metrô. Quando saímos tinha muito sangue espalhado pelos vagões e gente deitada na plataforma. Foi um pânico geral", disse Fabiana, passageira de um dos trens que vinha de Jaboatão dos Guararapes.
O artesão Giovani Quirino, 45, foi à UPA da Caxangá quando soube que sua amiga, a artesã Odenir de Souza Cardoso, 36, foi ferida no acidente. Quando a visitou na unidade de saúde pela manhã, não sabia se teria alta no mesmo dia. “Ela está sentindo muitas dores, e desconfortável porque estava com aquele colar cervical e a maca dos bombeiros. Ela disse que só viu o impacto, todo mundo caindo, que voou. Foi jogada em cima dos ferros e machucou o quadril, o fêmur e a coluna”, fala.
Os dois realizam trabalho voluntário no Hospital Oswaldo Cruz e é para lá que a mulher se deslocava no momento do acidente. “Ela estava vindo do Curado. Ela tinha feito integração no TIP e pegado um metrô. Estava indo em direção à Estação Central. Todos os dias ela faz esse percurso, quando não pega carona”, diz.
A cuidadora Ivana Gabriela, 30, também vinha da Estação Jaboatão. “A gente estava conversando, entretido, quando vê, foi só a pancada, como se o trem tivesse descarrilhado. Quando viu, estava todo mundo um em cima do outro. Eu caí por cima de um senhor e machuquei o pescoço”, relatou. Mesmo com o acidente, ela seguiu para a casa da idosa de 84 anos de que cuida. “Eu fui para o trabalho, só tava doendo e não tinha acontecido nada. Só que, depois que o corpo esfriou, aí o pescoço ficou duro e vi que machuquei o tornozelo”, falou. A dor a levou até a UPA da Imbiribeira, onde foi apontada uma distensão muscular.
"Me sinto lesionada como passageira"
Ivana é uma das vítimas que usam o serviço diariamente. Para ela, esta é a opção viável. “Se eu for pegar ônibus, eu tenho que pagar uma passagem a mais, e o trabalho só fornece duas passagens por dia”, explica. Pelo metrô, a mulher vai até o Terminal Integrado Joana Bezerra, onde pega outro ônibus a caminho de Boa Viagem, sem custo extra. Após a série de reajustes escalonados que começaram no ano passado, as viagens saem a R$ 6,90 por dia. O preço, no entanto, ainda vai aumentar. Até março, cada passe custará R$ 4, elevando a soma para R$ 8 por dia.
Mas o serviço não aparenta melhorar. “Quando não é isso, o metrô para e passa horas e horas, ninguém informa nada. Muitas vezes, em Jaboatão, a estação está fechada, ninguém fala que o metrô quebrou. Depois que passa 1 hora, meia hora lá, eles avisam que não vai ter”, reclama.
“Eu me sinto revoltada como a maioria dos usuários, que pagam passagem cara e não têm segurança, não têm comodidade. Eu me sinto lesionada como passageira”, afirma.
O sentimento é similar ao do eletricista Cícero da Silva, 43, pai de Lucas Cícero Santos da Silva, 18, vítima da colisão. Os dois costumam usar o metrô com frequência. O filho, diariamente. “Na verdade, não sei como o metrô funciona de uma forma dessa. Porque a gente paga uma passagem cara e não vê nenhuma benfeitoria para o trabalhador. O certo mesmo era que pelo menos melhorassem as condições da rede ferroviária”, desabafa Cícero.
O percurso de Lucas em direção ao trabalho começa na Estação Floriano, em Jaboatão, com sentido à Joana Bezerra, e pega um ônibus para Boa Viagem. Depois do acidente, o rapaz foi levado ao Hospital da Restauração, onde o pai o visitou ainda pela manhã. “Ele está sentindo alguns sintomas, dor na cabeça e no pescoço, que foi onde a pancada afetou”, conta Cícero.
Secretaria cobra esclarecimentos da CBTU
Por meio do Procon-PE, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) notificou a CBTU ainda na manhã desta terça para que a companhia preste esclarecimentos, no prazo de 24 horas sobre as constantes falhas no serviço oferecido à população. Um processo administrativo também foi instaurado.
De acordo com SJDH, entre os pontos do processo instaurado são exigidas explicações e soluções para as paralisações do transporte metroviário, condições de uso do maquinário, necessidade de manutenção do maquinário, condições de segurança, ineficiência do serviço e planejamento de ações adotadas para melhoria do transporte e da segurança dos usuários.
Ainda segundo a Secretaria, no dia 27 de fevereiro será realizada uma audiência pública na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, às 9h para discutir a situação e necessidade de uma atuação conjunta com todos os órgãos interessados.
CBTU
De acordo com o assessor de imprensa da CBTU, Salvino Gomes, disse que em 35 anos nunca aconteceu algo desta magnitude e que uma sindicância será aberta para apurar o que ocasionou o acidente. Em 2012, um choque entre dois trens aconteceu na Estação Coqueiral e deixou três pessoas feridas.
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Reforço nos ônibus
Por causa da colisão entre dois trens do metrô do Recife, na manhã desta terça-feira (18) na estação Ipiranga, que integra a linha Centro, o Grande Recife Consórcio de Transporte montou um plano para auxiliar os usuários do metrô, que precisam do modal para se deslocar pela Região Metropolitana do Recife (RMR). Com a medida, diversas linhas de ônibus receberam reforço.
Segundo o Consórcio, as linhas de BRT TI Camaragibe (Conde da Boa Vista), TI CDU/TI Joana Bezerra foram reforçadas para atender a população afetada pelo problema no metrô. Além destas, a linha TI Camaragibe/ Derby fará viagens alternadas para o Terminal Integrado Joana Bezerra, na área central da capital pernambucana.
Ainda de acordo com o Grande Recife, as linhas convencionais Barro/Macaxeira (Várzea) e Barro/Macaxeira (BR-101) também foram reforçadas na manhã desta terça-feira (18). Com estas linhas, os usuários poderão ter acesso à linha TI Camaragibe/TI Macaxeira.
Com o problema desta manhã na linha Centro do metrô do Recife, a linha especial TI TIP/TI Camaragibe foi ativada e as linhas TI TIP (Conde da Boa Vista) e TI TIP (Derby) foram reforçadas.
Saindo de Jaboatão
Quem usa a Linha Centro do metrô, com origem na cidade de Jaboatão, pode contar com o reforço da linha Jaboatão (Parador), indo para o Centro do Recife. Foram ativadas as linhas especiais que fazem a ligação entre os terminais de Joana Bezerra/Afogados/Barro e Barro/Jaboatão.
Aumento de passagem
O metrô do Recife vem passando por reajustes escalonados desde 2019. O penúltimo aumento escalonado na passagem do metrô do Recife aconteceu no dia 5 de janeiro. Os usuários agora desembolsam R$ 3,70 para acessar as plataformas. O último reajuste ocorrerá no dia 7 de março deste ano, quando o bilhete terá o valor de R$ 4,00. Os sucessivos aumentos acontecem desde maio de 2019.
Em maio, a passagem, que custava R$ 1,60, passou para R$ 2,10. O segundo reajuste ocorreu em julho, e o valor foi para R$ 2,60. Em setembro, mais um aumento e o bilhete chegou a R$ 3. Já em novembro, chegou a R$ 3,40. O reajuste gradativo da tarifa foi autorizado pela juíza Maria Edna Fagundes Veloso, titular da 15ª Vara Federal Cível.