Rastro de violência e destruição em prédio da UFPE

Centro de Filosofia e de Ciências Humanas (CFCH) da universidade teve, pelo menos, 10 salas e laboratórios arrombados. No Centro de Artes e Comunicação (CAC), reitoria diz que equipamentos eletrônicos foram furtados
Ciara Carvalho
Publicado em 26/12/2016 às 23:00
Foto: Foto: Ashlley Melo/JC Imagem


Salas arrombadas e reviradas, vidros quebrados, livros jogados no chão, pichações com frases agressivas e ameaças de morte a professores estampadas em paredes e portas. Difícil acreditar em tamanha destruição. Nesta segunda-feira (26) o sentimento de professores do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco era de perplexidade, de choque. Durante todo o dia, docentes foram até o prédio do CFCH para ver de perto o estrago deixado após a saída dos estudantes que, durante cerca de dois meses, ocuparam o centro para protestar contra a PEC dos gastos e a reforma do ensino médio. No Centro de Artes e Comunicação (CAC), a reitoria da UFPE identificou o furto de máquinas fotográficas, laptops e outros aparelhos eletrônicos. Em apenas uma das salas arrombadas, o prejuízo com a perda de equipamentos seria de R$ 100 mil.

Em todo o Estado, foram ocupados 11 prédios da universidade. Apenas o CFCH e o CAC foram alvo de depredação. A situação mais grave é a do CFCH. A equipe do JC percorreu parte dos 15 andares do prédio e o rastro de violência impressiona. Não apenas pela destruição física de salas de professores e laboratórios. Mas pelas palavras de ódio e agressão dirigidas a vários docentes, inclusive àqueles que possuem dentro da universidade pensamento e postura ligados à defesa dos movimentos sociais.

A diretora do centro, Conceição Lafayette, mostrou-se estarrecida e angustiada com a situação em que se encontra o prédio. Ela participou da vistoria realizada na última sexta-feira, um dia depois de os estudantes deixarem o centro. “O professor que teve uma sala vandalizada não tem só o prejuízo material. O impacto psicológico é enorme. Arrombamento e dano ao patrimônio público não são formas de protesto. São violações. É uma contradição que um movimento que luta contra a PEC dos gastos cause prejuízos materiais para uma universidade que já sofre com a redução de recursos”, afirmou.

INVENTÁRIO

Até o fim da semana, a diretora deverá entregar à reitoria um inventário detalhado com todos os estragos. O levantamento feito aponta que pelo menos 10 espaços foram arrombados, entre salas de professores, laboratórios, secretarias e coordenação de cursos. Conceição diz que não haverá tempo suficiente para deixar o prédio completamente recuperado, antes da retomada das aulas, marcada para 9 de janeiro. “Vamos correr para fazer os reparos emergenciais, consertar portas, limpar toda a sujeira deixada. As pichações só poderão ser removidas mais adiante, com a pintura do prédio. Será um trabalho difícil, ainda mais diante da dificuldade financeira que estamos enfrentando.”

Entre os professores que estiveram ontem no CFCH, inclusive alguns que apoiaram o movimento dos estudantes, o sentimento era de tristeza. “É lamentável ver como o prédio ficou. Foi uma resposta violenta para o pensamento diferente. Isso enfraquece a todos. E talvez nos mostre como andam as relações. Precisaremos discutir e refletir muito sobre tudo o que aconteceu aqui”, afirmou o professor Francisco Sá Barreto, do Departamento de Antropologia e Museologia. A reitoria já encaminhou material com fotos e informações para a Polícia Federal, que vai investigar o caso. A universidade também vai instaurar inquéritos administrativos para identificar os responsáveis pela depredação.

MOVIMENTO

O movimento Ocupa UFPE informou que "está redigindo um texto que falará do que aconteceu nas ocupações e tirará muitas dúvidas. Mas não se pronunciará neste momento".

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