Os olhos do jovem João Pedro Correia, 20 anos, brilham de alegria quando ele se lembra de Esperto, o cavalo que o acompanhou durante sessões de equoterapia – um recurso terapêutico reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina por ser capaz de promover o desenvolvimento físico, cognitivo, social e afetivo das pessoas que têm deficiências e também transtornos invasivos do desenvolvimento como o autismo, que acomete 2 milhões de brasileiros, João Pedro entre eles.
Há um ano e meio, a equoterapia não faz mais parte do processo de reabilitação do jovem, que tinha contato com o cavalo durante trabalho no Centro de Equoterapia da Polícia Militar de Pernambuco, localizado no Regimento de Polícia Montada Dias Cardoso, em San Martin, Zona Oeste do Recife.
Quando se tornou delicada a situação da cavalaria da Polícia Militar por causa do mormo (doença infectocontagiosa incurável e letal que ataca o sistema respiratório do animal), o serviço foi interrompido. “Desde o fim de 2013, João Pedro e dezenas de pessoas que haviam alcançado bons resultados com a equoterapia esperam a retomada das atividades. Recentemente fomos informados sobre o encerramento do projeto devido à contenção de despesas por parte do governo. Foi um golpe para a gente”, conta o pai de João Pedro, o funcionário público aposentado Edjailson Correia, 61.
Ele lamenta o fato de o progresso obtido pelo filho graças à equoterapia estar estagnado. “A atividade proporcionou a João Pedro melhorar a sociabilidade, postura e comunicação. É estranho o serviço ter parado após o governador Paulo Câmara ter sancionado lei que garante cuidado integral à pessoa com autismo”, diz Edjailson. Ele se refere à Lei nº 47/2015, que amplia os direitos de quem tem transtorno do espectro do autismo.
Questionado sobre a situação, o governo do Estado informou, através de nota, que analisa alternativas operacionais para a prestação do serviço voltar o quanto antes à normalidade, com o mínimo de desconforto para os 120 praticantes de equoterapia atendidos por dia no centro que fica em San Martin.
O governo explica que a suspensão das atividades com os cavalos foi determinada pela Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), diante do risco proporcionado pelo contato com os animais diagnosticados com mormo. “É uma doença sem cura que tem levado equinos de todo o País a óbito. O contato do cavalo enfermo pode causar sérios danos. A suspensão desse contato é a primeira medida sugerida pelo Ministério da Agricultura”, informa a nota.
A equoterapia do Regimento Dias Cardoso atendia pessoas com deficiências em geral ou necessidade de acompanhamento especializado. “As atividades estão suspensas temporariamente. Nos próximos dias, haverá reunião em Brasília para tratar de questões relativas ao mormo, que acomete cavalarias de todo o Brasil”, diz o comandante Alberto Moreira.
A expectativa, segundo ele, é de que o regimento possa saber, após essa reunião, se dá para retomar a equoterapia. “Os benefícios oferecidos por esse recurso terapêutico são inúmeros. Por isso, temos interesse em retomar o trabalho”, assegura Moreira.
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