O governo minimizou a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que mulheres grávidas não viajem a países onde há epidemia de zika, como no Brasil. Preferiu se apegar a declarações de David Heymann, chefe do comitê de emergência sobre o vírus da zika da OMS. Ele diz que a recomendação vale apenas para as regiões específicas com surto e não para todo o país e que é da responsabilidade de cada país deixar claro quais são as áreas afetadas pelo vírus para que as mulheres estejam bem informadas no momento de decidir se viajarão ou não para essas regiões.
O governo insiste ainda na tese de que está orientando a todas as mulheres que tomem medidas de prevenção contra o mosquito e que as grávidas e em idade fértil usem repelente e evitem o contato com o mosquito tomando medida de precaução, como uso de roupas que a protejam de picadas.
O Ministério do Turismo, por sua vez, em nota enviada ao jornal O Estado de S.Paulo, "reitera que não há restrição de viagens para regiões com transmissão do vírus zika" e lembra que "o governo federal, em parceria com Estados e municípios, está adotando diversas medidas que visam proteger não só os brasileiros, mas também os estrangeiros que vierem ao País para os Jogos Olímpicos".
Em relação ao mês de agosto, quando será realizada a Olimpíada, o Ministério do Turismo ressalta que este período "é considerado não endêmico para transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti, como zika, dengue e chikungunya". Acrescenta ainda que, "em 2015, agosto foi o mês com menor incidência de casos de dengue no País".
Ainda em sua nota, o Ministério do Turismo esclarece aos turistas, que disponibiliza em sua página na internet informações sobre a saúde do viajante e que o conteúdo, que é atualizado constantemente pelo Ministério da Saúde, está disponível nos idiomas português, inglês, espanhol e francês. Lembra que "as redes sociais da pasta também estão engajadas para levar mais informações sobre o assunto para os usuários, com produção de conteúdo próprio sobre o tema e compartilhamento de publicações do Ministério da Saúde".
"Pelos poucos dados que temos até agora, a chance de uma mulher grávida infectada por zika ter um filho com microcefalia é de 30%, um índice muito alto. Não vale a pena correr esse risco. É melhor adiar a viagem", afirma o médico Celso Granato, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emílio Ribas, o fato de a doença ser assintomática na maioria dos casos torna o quadro ainda mais perigoso. "Tanto para as grávidas quanto para quem pensa em engravidar. Pode haver a contaminação e a pessoa nem ficar sabendo. Se a mulher tem pressa em engravidar, é melhor não viajar para áreas endêmicas", recomenda o médico.
Os especialistas reforçam que, para as grávidas que já vivem em áreas com surto de zika ou que não podem adiar a viagem, como em um caso de urgência profissional ou familiar, a recomendação é aplicar repelente e usar roupas que cubram a maior parte do corpo. "Não dá para garantir 100% que não haverá a picada do mosquito, mas, seguindo essas recomendações, você diminui muito o risco", afirma Granato.