Estudo da USP indica ação benéfica do Aedes aegypti

Pesquisadores investigam se extrato da glândula salivar do mosquito pode ser eficaz no tratamento de doenças inflamatórias do intestino
Da editoria de Cidades
Publicado em 08/03/2016 às 6:04
Pesquisadores investigam se extrato da glândula salivar do mosquito pode ser eficaz no tratamento de doenças inflamatórias do intestino Foto: Divulgação


Ao mesmo tempo em que transmite vírus que preocupam as autoridades de saúde e a população em geral de todo o planeta, o Aedes aegypti pode ter ação benéfica sobre doenças inflamatórias do intestino. É o que revelam os primeiros resultados de testes laboratoriais realizados durante pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. O estudo, coordenado pela imunologista Cristina Ribeiro de Barros Cardoso, mostra que o extrato da glândula salivar do Aedes é eficaz ao tratar camundongos com inflamação intestinal.

“Se o mosquito consegue picar e induzir um certo controle da inflamação na nossa pele, será que substâncias de sua saliva também não poderiam ser usadas para tratar doenças de cunho inflamatório?”, questiona Cristina. A pesquisa foi iniciada em camundongos, que desenvolveram colite (inflamação do intestino) ao ingerirem uma droga chamada dextran sulfato de sódio, que foi adicionada à água. Assim, os animais passaram a apresentar sintomas da inflamação intestinal, como diarreia, perda de peso e sangramento intestinal. Em seguida, foi iniciado tratamento com extrato de saliva do mosquito. Após três ou quatro dias, os camundongos apresentaram diminuição dos sinais relacionados à gravidade da colite. 

“Esses problemas do intestino são um protótipo de doenças inflamatórias. É assim que conseguimos ter base para estudar diversas outras, como diabete tipo 1, artrite reumatoide e hepatite autoimune”, informa Cristina. Ela acrescenta que colegas do mesmo grupo de pesquisa do qual ela faz parte investigam o efeito do extrato salivar em modelos dessas outras doenças inflamatórias ou autoimunes. “É o excesso de inflamação causado pela imunidade que começa a atacar o organismo. Na diabete, o ataque de inflamação é contra o pâncreas; na hepatite, é contra o fígado; na doença inflamatória intestinal, é contra o intestino; na esclerose múltipla, é contra o sistema nervoso central.”

Não há previsão para a pesquisa ser iniciada em humanos, pois ainda é necessário mais tempo de fase pré-clínica. “Precisamos terminar de isolar as moléculas da saliva do mosquito, que têm um grande potencial de se tornar medicamentos. Os testes iniciais foram promissores. Conseguimos detalhar os mecanismos que a saliva usa para tratar a doença, mas devemos dar mais alguns passos em laboratório.” 

Os primeiros resultados do estudo foram publicados na revista científica International Immunopharmacology. A pesquisa é parte da tese de doutorado do biomédico Helioswilton Sales de Campos, orientado por Cristina. A expectativa é de que, no fim da investigação, seja possível oferecer mais uma opção terapêutica às pessoas com doenças inflamatórias do intestino. “Há muitos pacientes resistentes aos tratamentos atuais, que são caros. E às vezes, a única opção é a cirurgia, que remove o intestino. Então, é preciso ampliar esse leque de tratamento”, observa a pesquisadora.

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