Saúde

Microcefalia: Mapeamento do Cremepe aponta falhas na assistência

Segundo levantamento, atendimento nas redes de saúde municipal e estadual é insuficiente para as crianças com microcefalia. Cremepe também destaca problemas na concessão e na oferta de medicamentos

Da editoria de Cidades
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Publicado em 20/09/2016 às 12:39
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Segundo levantamento, atendimento nas redes de saúde municipal e estadual é insuficiente para as crianças com microcefalia. Cremepe também destaca problemas na concessão e na oferta de medicamentos - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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Levantamento apresentado, manhã desta terça-feira (20), pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), sobre a assistência fornecida às famílias das crianças com microcefalia no Estado de Pernambuco apresenta falhas em relação ao acompanhamento que tem sido oferecido pelas redes municipal e estadual de saúde. Além disso, segundo o Cremepe, não existem equipes multiprofissionais suficientes no Recife e em cidades do interior do Estado para atendimento ao bebês. O mapeamento foi divulgado em reunião na sede do Cremepe, no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife.   

Outro detalhe destacado pelo conselho é que não foram identificadas creches para acolher as crianças com a malformação congênita no Estado. O mapeamento também revela falta de medicações para essa população e problemas que dificultam a marcação para as famílias se inscreverem no Benefício de Prestação Continuada (BPC), auxílio que garante um salário mínimo mensal a idosos e pessoas com deficiência.

Gleyse Kelly Cavalcanti, vice-presidente da União de Mães de Anjos (UMA), é mãe de Maria Giovanna, 11 meses

Segundo informou a perita médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Adriana Veloso, foram concedidos 227 benefícios aos bebês com microcefalia nascidos na era zika. No entanto, representantes da União de Mães de Anjos (UMA), que participaram do evento, alegaram que muitas famílias ainda faltam receber o auxílio. “Certamente, esse número não chega a cem mães aqui no Estado”, lamentou a vice-presidente da UMA, Gleyse Kelly Cavalcanti, mãe de Maria Giovanna, 11 meses, que nasceu com microcefalia.

A UMA também exige melhor atendimento durante as sessões de reabilitação no interior do Estado. "Na Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE), soubemos pelas mães que o atendimento de fisioterapia estava sendo de 15 minutos por semana para dois bebês simultaneamente", destacou a presidente da UMA, Germana Soares.

Ela acrescenta que representantes da UMA se reúnem semanalmente com profissionais da Secretaria Estadual de Saúde para alinhar planejamento e execução das ações direcionadas à melhoria da assistência. “O Estado está cumprindo com o que foi acordado, que é qualificar profissionais no interior”, frisou Germana.

Germana Soares, presidente da União de Mães de Anjos (UMA), é mãe de Guilherme, 10 meses

“Vamos agora preparar um documento a partir do nosso levantamento e encaminhar ao Estado e ao INSS, já que os dados que foram apresentados durante a reunião foram conflitantes com o que observamos”, reforçou o presidente do Cremepe, André Dubeux. 

RESPOSTA

Segundo o Cremepe, representantes da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) e da Secretaria de Saúde do Recife foram convidados para participar da reunião, mas não compareceram. Mas ambas as pastas, além da Secretaria de Educação do Recife, alegam que não tiveram conhecimento prévio da reunião.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que a rede de ensino tem 16 estudantes com microcefalia matriculados nas escolas, creches e creches-escolas municipais. Desses, três estão em turmas do berçário – ou seja, têm menos de 1 ano.

Já o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, ressalta que a pasta nunca esteve ausente durante o trabalho de assistência às famílias das crianças com a malformação congênita. “Dos 65 casos confirmados de microcefalia e que residem na cidade, 32 estão em acompanhamento pelo Núcleo de Desenvolvimento Infantil da na Policlínica Lessa de Andrade. No serviço, há acompanhamento realizado por pediatra, neuropediatra, fisioterapia, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e nutricionista, entre outros profissionais”, frisa Jailson. Ele acrescenta que os outros 33 casos confirmados da malformação não estão no núcleo por opção da família. São crianças que, segundo o secretário, estão sendo assistidas por outros serviços. 

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, em nota, que tem realizado reuniões com as equipes dos serviços espalhados por todo o Estado e já vem promovendo, em parceria com a AACD, capacitações em reabilitação para profissionais dos serviços municipais e estaduais, com o foco de padronizar o trabalho de reabilitação na rede. Até o momento, segundo a pasta, mais de 300 profissionais já iniciaram as capacitações. Hoje, 26 unidades no Estado oferecem atendimento relacionado à microcefalia. 

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