Pela primeira vez, o Brasil ultrapassou a marca de mais de 100 mil cirurgias bariátricas, indicadas para o tratamento da obesidade, no período de um ano. O número equivale ao número de procedimentos realizados em 2016, quando se registrou um aumentou de 7,5% (em comparação com 2015), segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). A ascensão no volume de procedimentos é explicado por vários motivos, mas especialmente pela expansão do mapa do sobrepeso no País, onde 54% das pessoas estão acima do peso (taxa era 43% em 2006) e 19% apresentam obesidade (índice chega a 23,6% entre 35 e 44 anos). Os dados são de pesquisa do Ministério da Saúde.
“Embora o Brasil tenha ultrapassado 100 mil cirurgias bariátricas no ano passado, esse número é irrisório se considerarmos o universo de pessoas que precisam se submeter ao procedimento”, informa o professor da Universidade Federal de Pernambuco Álvaro Ferraz, chefe do Serviço de Cirurgia-Geral do Hospital das Clínicas. “Estima-se que são operados só 1,5% dos pacientes que necessitam da cirurgia bariátrica.”
O médico, que considera a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, reforça que o procedimento é, em alguns casos, o caminho mais eficaz e seguro para devolver qualidade de vida a quem apresenta complicações decorrentes do excesso de peso. “Há pessoas com obesidade severa que não conseguem baixar o peso a partir de um certo ponto (depois de seguir tratamento clínico com mudanças no estilo de vida, com dieta e exercício físico). São casos em que não depende mais do paciente, pois a obesidade já foi capaz de causar alterações (em hormônios e demais substâncias) no organismo que dificultam a capacidade de perda de peso”, esclarece Álvaro.
Outro motivo que fez aumentar o número de bariáticas no Brasil está relacionado com a ampliação, em 2016, de 6 para 21 o número de doenças associadas à obesidade que podem levar à indicação do procedimento, que contribui para o controle ou remissão de problemas relacionados ao excesso de peso, como hipertensão e diabetes tipo 2.
A estudante Ana Beatriz Cordeiro, 16 anos, passou pela cirurgia bariátrica há quase três meses. Eliminou 16 quilos e garante que desfruta de uma melhor qualidade de vida. “Respiro melhor e faço exercícios com mais disposição. As articulações não doem mais”, conta Ana Beatriz. Ela diz que, na família paterna, 22 pessoas já fizeram a bariátrica, o que mostra como a hereditariedade tende a prevalecer para o desenvolvimento do sobrepeso.
Para a cirurgia, Ana Beatriz optou pela robótica. Entre os principais benefícios do procedimento, estão reprodução dos movimentos das mãos do cirurgião sem tremor. E a qualidade do pós-operatório está diretamente relacionada a menores incisões. “O grau de precisão também é bom”, garante Álvaro.