Sedentarismo: 59% das pessoas não se exercitam diariamente no Recife

Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Uninassau desperta a atenção para os males em cadeia favorecidos pela falta de atividade física
Cinthya Leite
Publicado em 23/09/2017 às 12:15
Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Uninassau desperta a atenção para os males em cadeia favorecidos pela falta de atividade física Foto: Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR/Divulgação


A maioria dos moradores da capital pernambucana é sedentária e corre o risco de pagar um preço alto por causa da inatividade física. O estudo Hábitos e Cuidados com a Saúde do Recifense, realizado na cidade pelo Instituto de Pesquisas Uninassau com 624 pessoas a partir dos 16 anos, aponta que 59% da população que vivem no Recife não praticam exercício diariamente. As entrevistas, feitas nos dias 11 e 12 deste mês, contemplaram aspectos relacionados a riscos de doenças cardiovasculares e ainda atitudes associadas à saúde mental.

“O sedentarismo impacta bastante a saúde cardiovascular porque, primeiramente, quem não pratica exercícios tende a ter sobrepeso. O acúmulo de gordura abdominal é nocivo por liberar substâncias que alteram o metabolismo da glicose, que predispõe a diabetes tipo 2 (aquela relacionada a hábitos de vida pouco saudáveis). Mas antes de desenvolver a doença, as pessoas apresentam alterações na insulina, o que eleva a pressão arterial. Por isso, hipertensão e diabetes são problemas tão associados”, explica o cardiologista Hermilo Borba Griz, preceptor da residência de cardiologia do Hospital Agamenon Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Por outro lado, de acordo com o médico, pessoas que praticam atividade física passam a ter os vasos sanguíneos mais ‘abertos’, o que mantém a pressão arterial sob controle.

O cardiologista Hermilo Borba Griz destaca que vivemos num meio nocivo para adoecer. "O estilo de vida atual tem favorecido sedentarismo, alimentação inadequada e estresse", diz

A hipertensão arterial (28% dos entrevistados relataram ter o problema) preocupa porque, se não tratada, pode levar a derrames cerebrais, doenças do coração como infarto, insuficiência cardíaca e angina (dor no peito), à insuficiência renal ou paralisação dos rins e a alterações na visão que podem ocasionar cegueira. “Vivemos num meio nocivo para adoecer. A mudança no estilo de vida que tem ocorrido favorece o sedentarismo, a alimentação inadequada e o estresse, que pode levar a alterações na pressão e na glicose, como também provocar taquicardia (caracterizada pelo aceleração do coração em situações que exigem mais bombeamento de sangue, como o estresse)”, destaca Hermilo.

O cardápio pouco saudável mencionado pelo médico também foi um dos aspectos destacados pelo Instituto de Pesquisas Uninassau. No Recife, segundo o levantamento, 41% das pessoas se alimentam com comidas gordurosas. Desse universo, 66% dos jovens de 16 a 24 anos comem de forma incorreta. Outro dado que chama a atenção é o consumo de doces: 40% dos moradores da capital pernambucana capricham nessa ingesta. De 16 a 24 anos (também), esse percentual é bem maior: chega a 77%.

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A alimentação em excesso e inadequada também abre portas para o sobrepeso, que eleva os níveis de LDL, a fração ruim do colesterol. Entre os participantes da pesquisa, 21% e 14% mencionaram ter taxas altas de colesterol e triglicérides, respectivamente. “São condições que levam a um acúmulo de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, o que contribui para o entupimento (das artérias), favorecendo infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral”, frisa Hermilo.

SAÚDE MENTAL

Entre os recifenses que já vivenciaram a depressão, 44% já pensaram em suicídio, o que reforça como esse distúrbio mental está bastante associado a pensamentos frequentes de morte. A informação é também um dos destaques apresentados pelo levantamento Hábitos e Cuidados com a Saúde do Recifense, realizado pelo Instituto de Pesquisas Uninassau. “Suicídio é um problema de saúde pública que precisa ser, cada vez mais, discutido. Por isso, o tema foi parte da pesquisa”, informa o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, que é um dos coordenadores do levantamento.

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Especialistas não têm dúvida de que essa missão de informar corretamente sobre a prevenção dos casos é um caminho valioso para conscientizar a população sobre a necessidade de procurar tratamento para os transtornos psiquiátricos. Entre os participantes da pesquisa que tiveram depressão, a maioria (66%) foi ao médico para cuidar do distúrbio. Mas outros 34% não procuraram ajuda nos consultórios. É um percentual alto e que preocupa porque, sem apoio especializado, quem tem depressão permanece em risco de tirar a própria vida.

“As pessoas precisam compreender que não estão sozinhas e que o quadro de sofrimento mental intenso pode ser tratado. Falar e agir em torno disso são fundamentais porque ajudam a sociedade a procurar profissionais de saúde capazes de identificar e tratar (o transtorno mental) de forma adequada”, reforçou o psiquiatra Rodrigo Silva, do Hospital das Clínicas da UFPE.

Na sexta-feira (22), o médico participou do programa Casa Saudável, na TV JC, e chamou a atenção para os casos de tentativas de suicídio entre os idosos. É na faixa etária acima dos 70 anos, segundo o Ministério da Saúde, que se concentra a maior taxa de suicídio: 8,9 mortes (maior do que a média nacional, de 5,5) por 100 mil habitantes nos últimos seis anos.

No levantamento do Instituto Uninassau, o recorte para o grupo a partir dos 60 anos também acende um alerta: entre os idosos entrevistados, 63% pensaram em suicídio quando estavam em depressão. O índice é maior do que o total (44%) e só reforça o quanto o sofrimento mental merece ser tratado em todas as fases da vida.

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