Uma das doenças mais contagiosas do mundo, prevenida pela vacinação gratuita ofertada nos postos de saúde, retornou do passado e faz a população de Taquaritinga do Norte mudar a rotina dos sete postos de saúde da cidade, localizada no Agreste pernambucano. Com uma morte de bebê menor de 1 ano, cinco casos confirmados de sarampo e outros 36 em investigação, o município de aproximadamente 30 mil habitantes aplicou, nos últimos 30 dias, cerca de 5 mil doses de tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A corrida pela vacina aumentou de forma inesperada desde as primeiras suspeitas da doença, no fim de julho, e levou a cidade a montar uma força-tarefa para interromper a cadeia de transmissão do vírus.
“Antes do surto, aplicávamos a tríplice viral, no dia a dia dos postos, numa média muito menor. Eram cerca de 200 doses por mês”, diz a secretária de Saúde de Taquaritinga do Norte, Poliana Santana Andrade, ao referir-se a um aumento de 25 vezes nas aplicações mensais. Dos 13 casos de sarampo confirmados no Estado este ano, sete são de pessoas que participaram do Festival Café Cultural de Taquaritinga, na segunda semana de julho, ou que tiveram contato com quem circulou pelo evento, que atrai turistas de diversas partes do Brasil, inclusive de São Paulo, que soma 2.708 confirmações da doença.
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E por que Taquaritinga do Norte lidera, em Pernambuco, com metade dos registros de adoecimentos associados à cidade? As estatísticas do Programa Nacional de Imunizações revelam que não houve falha na vacinação – pelo menos, na primeira dose (aplicada aos 12 meses de vida) e na segunda (aos 15 meses). Nos últimos dois anos (2017 e 2018), a cidade registra coberturas além da meta de 95%, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A faixa etária dos cinco primeiros casos confirmados, no município, pode dar algumas pistas: três são menores de 1 ano, um tem 18 anos e outro 31 anos. É um cenário que tem ocorrido em outros países, como Estados Unidos: adolescentes e jovens adultos que não receberam a tríplice viral quando crianças estão pegando sarampo agora. Em contato com bebês desprotegidos, eles continuam a cadeia de transmissão.
BLOQUEIO
Esse panorama faz Taquaritinga correr para não dar brecha ao vírus. Diante de um caso suspeito, os agentes de saúde realizam imediatamente o bloqueio vacinal. Ou seja, quando notificado um caso da doença em alguma localidade, logo as pessoas que tiveram ou têm contato com o doente são vacinadas. Foi assim que as equipes souberam do adoecimento de Riquelme Nascimento, 18, que apresenta sintomas de sarampo desde sábado (31). Na terça-feira seguinte (3), todas as pessoas próximas ao jovem não imunizadas anteriormente receberam a tríplice viral.
“Comecei a ter febre muito alta e a ficar sem apetite. Depois, vieram a tosse e as manchas vermelhas no corpo. Sei que isso é muito ruim”, diz Riquelme, tio do bebê que faleceu por sarampo em agosto. Na família, após o adoecimento da criança e de outros dois jovens, Riquelme foi o único não imunizado durante o bloqueio vacinal. O irmão, Jacó Melo, 27, e a mãe, a agricultora Neide Melo, 54, receberam a tríplice viral e não adoeceram. “Sei que agora não pode mais deixar de ter vacina para ninguém, porque é uma virose que a gente pega até no ar. Há muitos anos, minhas filhas adoeceram. Agora voltou de novo”, conta Neide.