Na maturidade dos 34 anos, a pequena mais que notável (são apenas 1,64 m de altura em pouco menos de 50 quilos de musa) Deborah Secco diz que quer voltar a ser a atriz que foi aos 12. “Na verdade, eu tô em busca. Quero voltar a ter o desafio, como quando tinha 12 anos. Parar de repetir personagens que sei que já deram certo. Essa é minha busca. Isso vem de um amadurecimento natural, comecei aos oito”, diz, em entrevista ao JC, a atriz que, mais de duas décadas atrás, começou a conquistar o Brasil a partir do seriado Confissões de Adolescentes.
Atualmente numa novela de época exibida no horário das 19 horas, a atriz diz que não quer apenas viver a eterna dicotomia entre vilãs e mocinhas da dramaturgia maniqueísta da televisão. “A TV não me deu ainda a oportunidade de um papel profundo, capaz de explorar minha intensidade. Em Bruna, as pessoas se surpreenderam mais do que criticaram”, diz ela, cuja carreira pode ser dividida nos momentos a.B.S. e d.B.S: antes e depois de viver a prostituta de luxo Bruna Surfistinha que vai do céu ao inferno do mercado de Eros no filme homônimo. Uma personagem sem rede de proteção.
Hoje, Deborah está no Recife. Ao lado do amigo, apresentador e, sim, ator Marcos Mion, protagoniza a peça Mais uma vez, amor. Hoje e amanhã, encampa uma comédia romântica cheia de redes de proteção: com texto de Rosane Swartman e direção do carioca Ernesto Picollo, dois grandes e experimentados especialistas em obras sobre relacionamentos de classe média, ela vive uma jovem adulta entre idas e vindas com o amor de sua vida. Um casal-prova da tese de que, no fundo, é tão inviável como desejável a tal vida a dois. “Acredito no amor verdadeiro”, diz a moça que, antes de Confissões de Adolescentes, começou sua carreira televisiva fazendo pontas no Clube da Criança, da extinta TV Manchete.
É a segunda vez que Deborah faz o espetáculo. “Eu nunca queria ter parado. Gosto muito de fazer a peça. Mas, por compromissos, tive que parar. Encontrei Marcos (Mion) numa festa. Ele estava procurando um texto pra teatro. A gente conversou, mandei o texto pra ele. Ele me disse quer tinha chorado lendo o texto. Não tive dúvidas”, conta.
Mas a atriz quer mais. Sem citar nomes, diz que está de olho “em milhões de diretores, autores, atores do Recife”. “Sou uma pessoa que admiro muito o novo cinema que vem surgindo no Brasil.” Diz que, por ora, tem como desejo imediato entrar num filme dirigido por Karin Anouz, o cearense parceiro do pernambucano Marcelo Gomes, responsável por fazer Hermila Guedes extrapolar termômetros de visceralidade no filme O Céu de Suely.
Eleita a mulher mais sexy do mundo por uma publicação, em 2011, catalisadora midiática da libido nacional, Deborah diz que sua sensualidade não lhe pertence: “Não acho que seja sex-symbol. Fiz personagens sensuais que deram muito certo e uso minha sensualidade em prol das personagens. Não em prol de mim. Não quero ter esse rótulo. Espero poder fazer personagem não sensuais”.
O corpo, de fato, tem pertencido mais às personagens que à atriz. Deborah, recentemente, perdeu 12 quilos em apenas 45 dias para viver a soropositiva Judite no filme Boa Sorte. Colegas como Claudia Raia já disseram que, não raras vezes, fazer papéis menos “família” atrapalha os atores na hora de fechar contratos comerciais e mesmo conseguir patrocínios. Deborah revela não temer a possibilidade. “Com a Bruna (Surfistinha) não perdi nada. Pelo contrário. As pessoas se surpreenderam mais que criticaram.”
A tal maturidade também tem feito a atriz encampar a produção de seus espetáculos. É o caso de Mais uma vez, amor, montado sem qualquer finacinado da criticada Lei Rouanet. “Acho que muita coisa tem que mudar, mas no caso da nossa peça não temos lei. Fizemos sem lei. Está cada vez mais difícil esperar pra aprovar a lei, correr atrás, a burocracia da lei me incomoda”, diz.
“Entendo, também, que algumas empresas tenham receio. Com a Bruna, não conseguimos patrocínio de empresa. Nenhuma queria se vincular. Prefiro não julgar e faço o meu, independente disso. Mas não vou deixar de produzir porque não é da forma que deveria ser. No País, nada ainda é da forma que deveria ser”, critica. Produzir, para ela, é ampliar autonomia. “Acho que é necessário. A gente acaba tendo carreira mais autoral, em vez de ficar refém, de esperar convites. Tô produzindo filmes. O Boa Sorte, eu coproduzi. Bruna Surfistinha, também. Você pode escolher o que quer fazer e trabalhar pra isso”, diz ela, informando que a surfistinha de motéis é, hoje, apenas um grande capítulo de sua biografia. Jamais voltaria a fazê-la, nas telas ou no palco. “Foi um personagem bem construído, bem vivido. O ciclo já foi concluído. Já ganhei tudo que podia ganhar, já perdi tudo que podia perder. Já é um marco muito forte em minha vida.”
Mais uma vez amor – Hoje, às 21h; amanhã, às 19h. Teatro RioMar - Av. República do Líbano, 251, Pina. Tel: 3207-1144. Plateia: R$ 120 (inteira), R$ 60 (meia); balcão: R$ 100 (inteira); R$ 50 (meia). Ingressos a venda na bilheteria do teatro, loja Jornal do Commercio (RioMar Shopping) e site Ingresso Rápido.