O desenvolvimento das sociedades modernas, especialmente a partir do modelo ocidental, muito ligado à ideia de racionalidade, implementou, por muito tempo, uma espécie de repulsa aos instintos. A (re)conexão com o aspecto animalesco do humano, porém, tem sido investigado, entre outros, por filósofos, cientistas e artistas. Esse conceito também é abordado em Zoe, espetáculo que estreia nesta quinta-feira (15), às 20h, no Teatro Apolo.
Na Grécia Antiga, a ideia de vida era representada por dois conceitos: zoé e bios. O primeiro se referia à concepção de vida de forma geral, relacionada a todos os seres, enquanto a segunda designava a vida racional, relativa a cada indivíduo ou grupo. Para Aristóteles, bios estaria ligada a uma ligação com a moral.
Essa diferenciação serviu de base para a coreógrafa Francini Barros conceber, junto aos bailarinos, o espetáculo Zoe. Professora do departamento de dança da Universidade Federal de Pernambuco, ela se debruçou com os alunos sobre o tema, tendo como base o livro Homo sacer, o poder soberano e a vida nua, Giorgio Azamben.
“Para os gregos, o máximo da vida seria a supressão do zoé. Esse modelo de vida na pólis deu sustentação à sociedade ocidental e até hoje prevalece a ideia da racionalidade como modelo máximo de existência. Nossa vida civilizada nos roubou os instintos, os desejos. Queríamos investigar essas questões através dos corpos”, explica Francini Barros.
O espetáculo é ambientado durante uma noite na vida das personagens em cena. O público acompanha o desenrolar dos fatos do por do sol à alvorada, observando como as incertezas trazidas pela escuridão (real e metafórica), mexe com o irracional, os instintos de cada um.
“É um processo de deixarmos nossa animalidade sair. Trabalhar esse ponto foi muito importante para nós. Temos ciência de que o que fazemos no palco é bios pressupõe a relação com o outro. Ao mesmo tempo, quisemos instigar essa ideia de visitar áreas animalescas. Gostamos de instigar as contradições”, reforça.
Em cena estão os intérpretes-criadores Adelmo do Vale, Jorge Kildery, Maria Agrelli, Orun Santana, Rafael FX e Victor Lima. A luz, que segundo a diretora é parte fundamental da dramaturgia, é assinada por Eron Villar.