Se comunicação é a chave para o sucesso de qualquer relacionamento, nos amorosos ela parece assumir um papel ainda mais crucial. Ainda assim, falar sobre os sentimentos, ouvir o outro e encontrar um denominador comum é um processo cheio de meandros, um tanto misteriosos e singulares, que cada casal precisa encontrar. Para os atores Maria Flor e Emanuel Aragão, esse exercício constante se transformou em arte e assuntos geralmente legados ao âmbito do privado foram levados ao palco na peça
Tudo Que Você Sempre Quis Dizer Sobre o Casamento, que eles apresentam sábado (22/9), às 21h, no Teatro RioMar. Juntos há quatro anos - e há um dividindo o mesmo CEP - eles tentaram, desde o começo, ser muito sinceros quanto aos seus sentimentos, inclusive as dúvidas. Informalmente, passaram a encenar situações sozinhos e também na frente dos amigos, que logo incentivaram o casal a transformar aquelas cenas em uma peça.
A dramaturgia do espetáculo, que é estruturado como uma espécie de “stand up de dois”, toca em diversos assuntos que circundam a vida a dois, como monogamia, maternidade e ciúmes, por exemplo. Esse desnudamento emocional diante da plateia é um processo libertador para os artistas, mas eles confessam que há temas que, antes de chegar aos palcos, causaram algum desconforto.
"O texto está pregado na parede do nosso quarto como um post-it. O que acontece, a gente cola ali, seja durante o sexo, uma briga, uma conversa, a gente vai lá e anota. No começo, a gente ficava meio preocupado. Por exemplo, eu tenho um filho, de quem Flor é madrasta, e essa era uma questão que a gente achava delicada. Mas, pensamos que se é complicado para a gente, também pode ser para os outros", aponta Emanuel, que também é roteirista.
Desde cedo eles decidiram imprimir um tom leve e pautado pelo humor, mas se atentaram para que as situações não perdessem profundidade. Queriam, antes de tudo, que suas questões pessoais tivessem um caráter universal, calcado na empatia.
"Pensar sobre o assunto (relacionamentos), sobre ser feminista mesmo dentro de uma relação hétero, normativa, e ainda assim encontrar espaços para entender a liberdade do outro, tudo isso nos motiva", enfatiza a atriz.
Para quebrar qualquer tipo de formalidade, os atores deixam a plateia bem à vontade desde o início e afirmam que é possível interagir com a peça, manifestando-se durante ela.
Além dos palcos, Maria Flor e Emanuel também têm levado suas discussões para outras plataformas, como o YouTube e as redes sociais. No canal Nosso Tubo e no Instagram, eles interagem com os seguidores, trocam experiências e também colhem material para a peça. O casal diz ainda que tem ideias de ocupar outros espaços, como um filme ou uma série.
"A gente adora conversar. Já tive conversas com pessoas que eu não conhecia, mas é para isso que serve também essas ferramentas. O teatro, ao mesmo tempo, gera um diálogo muito parecido porque muitas pessoas ficam no final da peça para conversar mesmo, se emocionam, nos emocionam também", aponta Maria Flor.