Carlos Pragana retrata Maria e Jesus na capa do JC

Artista decidiu retratar mãe e filho como se fossem de qualquer subúrbio brasileiro
Eduardo Amorim
Publicado em 24/12/2011 às 17:15


O quadro que ilustra a capa do Jornal do Commercio hoje é obra de Carlos Pragana. A pintura representa, nas palavras do pintor recifense, "uma Maria do povo e o menino Jesus, que poderia ter nascido no Ibura". Cristão, embora não praticante, ele teve como objetivo mostrar que a família em que nasceu o filho de Deus era humilde como a da maioria dos brasileiros que moram na periferia ou no interior do País.

"Passei minha infância no Engenho Burity, em Palmares, que era de propriedade da minha avó. E me inspirei nas mulheres do povo que eu via naquela época", conta. O trabalho foge do abstracionismo que marca a produção atual de Pragana, já que ele queria sensibilizar todos os leitores e também as pessoas que veem a capa do jornal nas ruas, que "teriam dificuldade de compreender um trabalho completamente abstrato".

Hoje com 59 anos, Pragana é profissional desde 1999, mas sua primeira exposição foi realizada quando ele tinha apenas 14. Um tio dele era diretor da AABB e sugeriu que pintasse alguns quadros ao menino que vivia desenhando nos seus cadernos. A mostra com quatro pinturas, incluindo o Adão e Eva à direita, é mantida até hoje no ateliê do artista, no Pina.

Em 1975, ganhou o prêmio de aquisição do II Salão de Arte Global de Pernambuco. Mas, após a morte do seu pai, precisou se dedicar aos negócios da família e a pintura ficou sendo apenas uma atividade secundária na sua vida durante mais de 20 anos, nos quais cuidou do engenho da família e depois foi viver como agricultor em Petrolina.

Depois de passar por problemas financeiros graves, o artista abandonou a vida de fazendeiro e fez sua primeira exposição profissional no Museu da Abolição (Iphan). Ele conta que, em 1999, nesta primeira mostra profissional, vendeu praticamente todos os quadros. Desde então, voltou a morar no Recife e começou a viver da pintura e a trabalhar sistematicamente com arte.

Autodidata, Pragana diz que lê muitas revistas de arte, mas não teve uma educação formal na pintura. Suas obras passeiam por referências que muitas vezes nos lembram de artistas pernambucanos como Rinaldo, Luciano Pinheiro, Maurício Silva ou mesmo estrangeiros como Francis Bacon. Na exposição O homem e sua sombra, realizada em 2009, o pintor tomou como inspiração poemas de Afonso Romano de Sant’Anna.

Pragana conta, no catálogo da exposição, que estava assistindo a uma entrevista do poeta na televisão e se identificou com um poema "que relata a história de um homem com sombra de cachorro que sonha ter sombra de cavalo. Quem não sonha com outras sombras? É exatamente essa dualidade da personalidade humana que me instiga". Para ele, os artistas não inventam nada desde os tempos das cavernas e apenas possuem a capacidade de enxergar coisas que os outros "veem, mas não enxergam".

O crítico e amigo pessoal Weydson Barros Leal resume o trabalho de Pragana: "Para o conhecedor da pintura, seus quadros são janelas para novas relações críticas e dialéticas. Para os novos admiradores, são uma ótima maneira de enriquecer a sensibilidade".

O artista é muito solicitado para encomendas e não se nega a realizar os trabalhos. No caso da obra para a capa do JC, "foi um desafio para mim fazer uma coisa bonita, sem ser piegas e que fosse de fácil entendimento", diz. Ele lembra que mesmo os grandes mestres da pintura aceitavam encomendas e exemplifica lembrando que Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina após um pedido do Papa Julio II.

Em 2012, ano em que o artista completa 60 anos, seu principal projeto é realizar uma exposição de obras inéditas no Centro Cultural dos Correios, em junho. O projeto já foi aprovado e contará com catálogo. As pinturas ainda serão feitas, frisa, garantindo que será um ano bem corrido, já que "tenho que fazer um trabalho autoral e vou continuar dando sequência à minha produção normalmente". No site www.pragana.com.br, ele reúne seu trabalho mais conhecido de pinturas e também desenhos e serigrafias.

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