Em 1978, Paulo Bruscky circulou pelo centro do Recife com a placa “O que é arte? Para que serve?”. Essa é a provocação que move o multiartista pernambucano até hoje, aos 67 anos: “no dia que souber, eu paro”.
Bruscky é um dos principais nomes da arte contemporânea, não apenas no Brasil, mas no mundo. Atuando – muitas vezes de forma pioneira – em diversas áreas, mídias e suportes (veja infográfico abaixo), ele tem obras no acervo dos maiores núcleos de arte moderna do mundo como Centre Pompidou (França), Tate Modern (Inglaterra), MoMA (EUA) e Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Espanha).
Em cartaz de hoje até 12 de fevereiro de 2017 na Caixa Cultural, a exposição PaLarva - Poesia Visual e Sonora de Paulo Bruscky marca os 50 anos de carreira do auto-intitulado “artista nocivo à sociedade” e faz uma restrospectiva de sua obra, reunindo mais de 300 trabalhos. O título da mostra vem de uma peça criada por Paulo Bruscky em 1992. Ele explica: “É muito mais difícil trabalhar com a palavra do que pegar uma rocha e transformar em joia. A palavra é mais do que uma palavra, é um embrião”.
Bruscky também é notório pelas intervenções urbanas. Seus Enterros Aquáticos (1971 e 1972) causaram confusão entre os transeuntes do Centro do Recife. Ele jogou no rio um caixão com a palavra “arte”. Os bombeiros “resgataram” o caixão e, ao abri-lo, depararam-se com uma pilha de frases irônicas contra o regime militar e a história da arte. Junto com o paraibano Unhandeijara Lisboa, ele também inventou o Poesia Viva (1977), happening que será remontado hoje na abertura da mostra. Como nos Parangolés de Hélio Oitica, os participantes fazem parte da obra vestindo roupas com letras que formam “poesia viva” e brincam formando novas palavras.
“Tem uma frase, não sei se é de Maiakovski, que diz que a arte tem que ir onde o povo tá. O happening me interessa porque você dá o tiro inicial e não sabe se a bala vai chegar no alvo ou não, depende da participação do público. É desmistificar a ideia do artista como um autor absoluto”, pontua.
A exposição também concentra o seu trabalho audiovisual. Participante do ciclo de cinema Super 8 – que também tinha os jornalistas Geneton Moraes, Celso Marconi e Fernando Spencer e o poeta Jomard Muniz –, Bruscky realizou uma série de curtas. Um destaque é Performance Para 2 Elevadores (1982), que trata da incomunicabilidade nos elevadores. O filme foi rodado em Nova York, onde ele passou uma temporada após receber a prestigiada bolsa da Guggenheim. Nos EUA, conheceu John Cage e quase todos vanguardistas do grupo Fluxus.