Dos cinco sentidos relacionados à percepção do mundo exterior, talvez a visão seja o mais definidor da sociedade contemporânea, fundamentada em cima da imagem. O “ver para crer” tornou-se mais do que uma expressão, funcionando como uma espécie de leitmotiv dos nossos tempos. No entanto, a ideia de que o olhar é imaculado e registra com precisão o mundo é reducionista (para não dizer uma falácia). A percepção do entorno se constrói, também, com um mergulho interno que, por vezes, exige que se feche os olhos para conseguir ver. Foi instigado pela força dessas possibilidades que o fotógrafo brasiliense Leonardo Costa Braga desenvolveu o projeto Olho Mágico, cujo livro ele lança nesta quarta-feira (26), às 19h, no Coletivo Sexto Andar.
Interessado em ampliar sua noção a respeito da imagem e sua construção, Leonardo convidou dois artistas com deficiência visual, Josias Neto e Be Moraes, que já fotografavam há anos, além de neurocientistas como Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para debaterem o tema.
“A grande questão foi buscar o ponto em comum entre arte, ciência e cegueira na experiência humana. Estamos presos a ver apenas com os olhos, desvalorizando as outras experiências que são ricas e também ajudam nossa comunicação e percepção. Isso, na ciência, é uma pesquisa desenvolvida. Ninguém vê com os olhos. Na verdade, eles são como lentes da máquina fotográfica, que captam a luz, mas são os processos cognitivos que dão sentido à imagem”, reflete o artista.
A intenção de trabalhar com cegos, segundo ele, foi também de desmistificar a ideia de que a privação da visão impossibilitaria o registro das experiências do mundo. Dessa forma, a partir das imagens feitas por Josias e Be, Leonardo promoveu uma série de intervenções, além de aguçar, nele mesmo, outras formas de ver e sentir (o artista fez uma vivência na qual passou quatro dias vendado). Sua ideia, ao retrabalhar as fotos, era também aguçar as possibilidades de leituras. O projeto conta ainda com vídeos.
“Os cegos ouvem melhor, degustam melhor, são mais concentrados, mais perceptivos. Isso ajuda eles a fotografarem. Temos que aprender com eles, pois estamos usando pouco do mundo cognitivo interior, intuição, sentimento. O livro traz muito sobre isso. Estamos vivendo um momento difícil enquanto nação e seres humanos. Precisamos falar mais a língua do outro. Não só para ter mais e mais tribos, mas para ter mais encontro entre elas”, diz.
ATIVIDADES
Além do lançamento do livro, Leonardo participa ainda de outras duas atividades no Sexto Andar: uma oficina, amanhã e sexta, e um workshop no sábado. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail expandirfotografia@gmail.com.
APARELHOS - Projeto Olho Mágico from Leonardo Costa Braga on Vimeo.