Ainda que a pintura, o desenho e os murais sejam os aspectos mais conhecidos de Lula Cardoso Ayres (1910-1987), a obra do pernambucano se destaca ainda em outra técnica: a fotografia. Nos últimos anos, esse aspecto de sua produção tem ganhado mais atenção e reforça seu olhar apurado para a cultura do homem do campo, as manifestações populares e a arquitetura pernambucana. Esse patrimônio cultural, em breve, estará disponível para consulta, graças à recente doação do acervo do artista, composto por 7.149 documentos, à Fundação Joaquim Nabuco.
Para Lula Cardoso Ayres Filho, não havia outro lugar tão adequado quanto a Fundaj para receber as fotografias do seu pai. Ele lembra que a instituição fez parte de sua infância e que obras do pai já integravam o acervo do Museu do Açúcar e, posteriormente, do Museu do Homem do Nordeste.
“Quando tio Gilberto (Freyre) era presidente da Fundação Joaquim Nabuco, ele adquiriu algumas fotos dos engenhos e papai também doou outras de manifestações culturais. Depois da morte dele, preservei todo o acervo e, já faz um tempo, tenho interesse que ele fique com a Fundaj, por conta do trabalho riquíssimo que eles têm feito na área de cultura. Aos poucos, já estávamos nesse processo de doação, eles já tinham uma pequena parte do acervo e agora, terão tudo”, conta.
De fato, algumas imagens já preservadas pela Fundaj puderam ser conferidas no livro Lula Cardoso Ayres – Fotografia, lançado em 2017 pela Cepe Editora. Agora, a catalogação contará com 7.149 itens, sendo 3.425 negativos e diapositivos e 3.724 ampliações em papel. Segundo Lula Cardoso Ayres Filho, os registros de seu pai agrupam-se principalmente em três grandes eixos temáticos: registros da realidade do interior do Estado, arquitetura e manifestações culturais.
Betty Lacerda, coordenadora-geral do Centro de Estudos da História Brasileira da Fundaj e organizadora do livro de fotografias do pernambucano, reforça ainda que as imagens de Lula Cardoso Ayres serviam de material para o seu trabalho nas artes plásticas.
“Ele estudava através da fotografia e tinha um olhar muito apurado, artístico. Ele não era fotógrafo profissional, fazia isso porque amava e o resultado é um conjunto extraordinário, tanto do ponto de vista técnico quanto plástico. A arte de Lula também está na fotografia. Suas fotos têm um caráter antropológico e histórico muito forte, ressaltam o homem do campo (ele era filho de usineiros e cresceu nesse ambiente) e manifestações como o caboclinho, cavalo-marinho e bumba-meu-boi, entre outras”, explica.
A pesquisadora afirma ainda que há um componente de emoção especial da sua parte em poder preservar esse acervo. Seu pai, o fotógrafo Alcides Lacerda, foi grande amigo do multiartista e ambos saíram para clicar a cidade em diversas ocasiões.
“Os dois sempre perambulavam juntos pela cidade, ouvi muitas histórias. Conheci Lula na minha adolescência e para mim é uma emoção inenarrável poder pegar esses documentos. A gente precisa preservar para as novas gerações para que conheçam outras facetas de Lula Cardoso Ayres”, enfatiza.
Os documentos passarão por processos de catalogação, higienização e digitalização. Posteriormente, serão disponibilizados para o público, inclusive através da internet. Ainda não há data para isso acontecer, mas Betty garante que estão sendo feitos esforços para que essas imagens estejam disponíveis o mais rápido possível.