Quem por ventura transita pela capital pernambucana se depara constantemente com as obras de Francisco Brennand. Sortudos também aqueles que chegam à cidade, pois já no desembarque são presenteados com a Sinfonia Pastoral (1958), no Aeroporto Internacional do Recife, ou com a emblemática vista do Parque das Esculturas, na divisa do Rio Capibaribe e do Oceano Atlântico, no Marco Zero, caso a viagem tenha sido feita de barco. Entre esculturas e murais, o Recife acolhe mais de 30 obras públicas de Francisco Brennand, muitas delas localizadas no Centro da cidade, como é o caso dos painéis que podem ser encontrados na entrada da Biblioteca Pública do Estado, no pátio do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), na Igreja de São José ou ainda em fachadas da Avenida Cruz Cabugá, Rua Dom Bosco e Rua do Sol.
Esse mapeamento vem sendo realizado desde 2013 pela equipe do projeto Recife Arte Pública, coordenado pela arquiteta e pesquisadora Lúcia Padilha. "O legado de Brennand é também o de ter retratado momentos importantes da nossa história, como a Batalha dos Guararapes, no mural da Rua das Flores (Centro do Recife), que tem mais de 30 metros de largura", ressalta. As obras mapeadas podem ser consultadas através do site do projeto e, já no início de 2020, poderão ser encontradas no livro que está sendo produzido.
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O painel da Batalha dos Guararapes sempre é citado por pesquisadores e urbanistas como uma das maiores e mais importantes obras de Francisco Brennand. Produzido entre 1961 e 1962, o mural tem 33 metros de comprimento e 2,5 metros de altura. Versos de Ariano Suassuna e César Leal acompanham os desenhos do histórico conflito entre os holandeses e os portugueses, ocorrido em meados do século 17. Nos últimos anos, muito se tem criticado a falta de valorização desta obra. Adquirida pelo Banco da Lavoura em 1971, em seguida passou a pertencer ao Banco Real e, anos depois, ao Santander, com quem permanece até hoje. O banco confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que existe um projeto de revitalização do mural.
Além da restauração da cerâmica, os planos do Santander envolvem a remoção da obra da Rua das Flores e sua instalação no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, para criar um espaço público de convivência. O projeto não tem data para ser executado, pois ainda se encontra no estágio dos trâmites burocráticos.
Arte por toda a cidade
Para o representante pernambucano no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR), Roberto Salomão, Brennand faz parte da paisagem do Recife. “Ele redefine a cidade a partir de sua obra em muitos aspectos, suas obras reconstroem a paisagem”, avalia. “Brennand tinha um conhecimento estético da arte muito forte, que muitos artistas não têm. Ele era era pesquisador e compreendia a relação do espaço urbano com a arte. Ele contribui e continuará contribuindo com a paisagem da cidade porque sua obra fica como legado."
Além da capital pernambucana, é possível encontrar obras de Francisco Brennand nas ruas de Fortaleza, Aracaju, São Paulo, Salvador, Brasília e Manaus, entre outras cidades brasileiras. Fora do País, o legado do ceramista fica marcado na Suíça, Inglaterra, França, no Peru, Chile e Estados Unidos.
Independentemente, o legado de Francisco Brennand ultrapassa os muros da sua fascinante Oficina e continuará fazendo parte do dia a dia dos recifenses. Basta um olhar atento às fachadas da cidade para ter a oportunidade de partilhar um pouco do universo e das formas criadas pelo artista pernambucano ao longo das últimas décadas. Se o pintor Cícero Dias estava correto, o mundo começava mesmo no Recife. E sua porta de entrada é o mitológico e impressionante Parque das Esculturas de Francisco Brennand, sem dúvidas, um dos cartões-postais mais famosos de Pernambuco e que foi inaugurado em 2000, integrando o projeto Eu vi o Mundo...Ele Começava no Recife, na ocasião dos 500 anos do descobrimento do Brasil.
Ironicamente, o conjunto das 90 esculturas que formam o parque foi pensado pelo artista para representar o que existia e resistia antes da colonização. Um universo mitológico, encantador e único onde a fauna e flora – duas constantes na obra de Brennand – conviviam em harmonia e cuja principal escultura é a tão falada e fotografada Coluna de Cristal, com seus 32 metros de altura, confeccionada em argila e bronze.