CANNES, FRANÇA - A diretora francesa Maïween costuma dividir seus conterrâneos. Dona de um estilo mais comercial, não é bem vista pelos críticos. Ao mesmo tempo, seu "Polissia" levou o prêmio do júri do Festival de Cannes, em 2011.
E o retorno da cineasta à Croisette, neste domingo (17) de competição, não foi diferente. "Mon Roi", romance doentio protagonizado por Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot, foi recebido por aplausos e vaias na mesma intensidade, além de gritos de "nepotismo" -sugerindo que só estaria na seleção oficial por ser francês.
O filme é basicamente a recriação intelectualizada de uma relação obsessiva entre uma advogada insegura (Bercot) com o marido (Cassel), um dono de restaurante com passado repleto de casos com modelos (inclusive uma que não consegue largar) e que se recusa a crescer.
"Mon Roi" segura-se em pé por causa do charme de Vincent Cassel, que trafega entre a grosseria violenta e a paixão avassaladora com desenvoltura. Mas Maïween dedica muito do filme a um dos clichês máximos do cinema atual: a advogada, em uma narrativa futura, recupera-se de um acidente que rompeu os ligamentos do seu joelho ao mesmo tempo que cura o passado e respira sozinha.
A cineasta tenta transformar uma fisioterapia passada em um centro de recuperação no Mediterrâneo em um drama pesado, mas falha grotescamente. De certa maneira, "Mon Roi" é um sub-"Ferrugem e Osso", de Jacques Audiard, sem a mesma força de personagens e tensão. Mas talvez "nepotismo" seja uma palavra muito forte para receber o longa.