A (im) Permanência do amor

A cena acontece perto do final de Permanência, o sensível e zangado primeiro longa do pernambucano Leonardo Lacca, que estreia nesta quinta-feira (28/5) em circuito nacional (no Recife, o filme entra em cartaz no Cinema da Fundação e no Cinemark RioMar; e em Jaboatão, no Cinépolis Guararapes): hospedado no apartamento da ex-namorada Rita (Rita Carelli), em São Paulo, para onde foi acompanhar uma exposição, o fotógrafo Ivo (Irandhir Santos) é visto, às escondidas, mexendo numa câmara fotográfica analógica, como se a preparasse para dar um clique. É é isso o que ele vai fazer. Mas a sutileza do seu gesto – e o que está por trás dele –, esconde um ato de extrema violência, que só será entendido por Rita e pelo espectador um tempo depois.

Por quase toda a duração de Permanência, que ganhou cinco prêmios Calunga no Cine PE deste ano, incluindo o de Melhor Filme, Leonardo Lacca vai destilar esse mal-estar indizível que acomete homens e mulheres quando o amor que existia entre eles acaba. Mesmo assim, Rita, agora casada, não vê nenhum problema em convidar Ivo para ficar na casa dela.

Em meio a esse ressentimento contido, só amainado por algumas xícaras de café com a ex, Ivo aproveita para reencontrar o pai, que parece manter sua existência em segredo. Fruto de uma certeira observação, ele não gosta das generalizações dos paulistanos, da desorganização urbana da cidade e professa um machismo atávico. 

Embora aparente sofrer com o amor perdido, já vive um novo relacionamento. E nem se furta em pegar a primeira mulher que dá mole para ele. Primorosamente filmado por Pedro Sotero (O som ao redor e Casa grande), Permanência é um filme de rara lucidez e sutileza. Não deixe de ver.