O diretor pernambucano Claudio Assis – envolvido no último sábado, junto com Lírio Ferreira, em uma confusão durante um debate com a cineasta Anna Muylaert sobre o filme Que Horas Ela Volta? – pediu desculpas pelo ocorrido no seu Facebook. “No último sábado, por excesso de contemplação, passei da conta. Errei e devo desculpas a Anna Muylaert. Minha amiga, parceira e roteirista do meu próximo filme, Piedade. Realizadora que, como eu, tem tentado fazer do cinema um lugar maior que uma sala de exibição. A protagonista naquele dia era ela e o palco deveria ser só dela”, escreveu.
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O comentário continua. “Se me exaltei em um local repleto de outras pessoas que estavam ali para ver Anna e sua incrível obra, peço desculpas também ao público que estava lá e ao Cinema do Museu. No mais, quem quiser, de forma conservadora e careta, me crucificar, assista qualquer cinco minutos de uma obra que também é de roteiristas, técnicos e atores que junto comigo são contra qualquer tipo de opressão e discriminação”, falou. Ontem, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), que sediou o debate, anunciou que Claudio e Lírio estão vetados, por um ano, de participarem de eventos nos cinemas da instituição – seus filmes também não serão exibidos no período.
Na postagem e no seu Facebook, Anna Muylaert perdoou o cineasta, mas falou que o debate sobre o machismo é importante. “Quero dizer que tudo o que aconteceu sábado foi chato e já passou. Mais importante do que discutir o sábado passado é abrir o debate sobre o aprendizado da sociedade em aceitar situações onde o protagonismo é das mulheres e a coadjuvância dos homens. Afinal, estamos todos em obra. Um dos temas do meu filme que discutíamos aquele dia é justamente as regras sociais invisíveis que nos regem muitas vezes sem nossa própria consciência. Agradeço a você (Claudio) pelo teu cinema, pela tua amizade e também a Thales Junqueira pela coragem de explicitar uma situação - não em nível pessoal e sim em nível de cidadania - e assim abrir um debate que é importante e urgente não apenas no Recife, mas também em São Paulo e no mundo inteiro hoje. Tenho certeza que todos crescemos com isso”, afirmou a diretora.
CONTRA O VETO - O escritor Xico Sá, autor do livro que inspirou o filme Big Jato, obra de Claudio Assis que estreia em festivais neste ano, questionou nas redes sociais a punição da Fundaj, especificamente em relação ao veto à exibição dos filmes de Claudio e Lírio. “Quaisquer ofensas feitas pelos caras do sururu da Fundaj ou quaisquer outros cidadãos são passíveis de queixas e eventuais processos na Justiça; bom, que os ofendidos o façam. Até a deselegância contra as mulheres, de certa forma, pode ser criminalizada pela lei da delicadeza no tribunal das maiores causas”, escreveu.
“No que discordo da direção da Fundaj, órgão público federal, banir das telas do seu cinema os filmes dirigidos pelos dois. Todo mundo sabe (...) que a Fundaj é coisa pública federal, que a Fundaj não pode agir sob o mesmo efeito do piti... Que a Fundaj, um luxo nordestino pelo seu zelo à pesquisa e ao cinema, pode até proibir a presença física dos caras na área, jamais as obras – coletivas no último, como todo cinema, por mais egos, flambados ou não, estejam envolvidos no rebuceteio – aqui como sinônimo de confusão, não em homenagem à bela pornochanchada brasileira”, conclui.
Helder Aragão, o DJ Dolores, que assina a trilha do filme, também questionou a decisão. “A Fundaj é um órgão federal se não me engano, alimentado por verba pública e simplesmente decidiu que ‘eventos’ envolvendo os dois estão suspensos pelo período de um ano como forma de punição por mau comportamento. Nas entrelinhas, lê-se que o Big Jato, novo filme de Claudio, não será exibido nos cinemas da Fundação. Talvez meus amigos bem intencionados não tenham percebido, talvez seja vingança pelas presepadas dos caras mas, acima de tudo, queria lembra-lhes de uma coisa: vocês estão apoiando a censura do estado. Sim, vocês, que se dizem de esquerda, libertários, etc... estão fazendo o jogo sujo da perseguição moral. (...) Proibir Claudio e Lírio de frequentarem a Fundaj é compreensível. Proibir obra é inaceitável”, defendeu. Ele ainda comentou que se sente pessoalmente prejudicado por não poder ver seu filme exibido num cinema da sua terra.