Wilson Freire usa apenas seu celular para produzir novo filme

O cineasta, poeta e escritor arrecada verba para filmar seu próximo curta usando apenas dispositivos móveis
JEFFERSON SOUSA
Publicado em 29/11/2016 às 5:00
O cineasta, poeta e escritor arrecada verba para filmar seu próximo curta usando apenas dispositivos móveis Foto: Foto: Dani Neves/JC Imagem


Quando o assunto é portabilidade e coletividade financeira, a década de 2010 tem sido uma das mais importantes de toda a história do cinema. Filmes como Tangerine (2015), de Sean S. Baker, e Charlote SP (2016), de Frank Mora, produzidos e pós-produzidos unicamente com Iphones e com a grande parte dos incentivos vindos de doações online, demonstram na prática, através dos diversos prêmios conquistados, que há uma abertura crescente de possibilidades de construir audiovisual com qualidade fora dos meios tradicionais e dos altos custos.

Partindo dessa ótica de inovação e dispositivos móveis, o cineasta, poeta e escritor Wilson Freire começa a gravar hoje o seu novo curta-metragem, Encruzilhada dos Trilhos, usando apenas o smartphone Sony Xperia Z5 como captação de áudio e vídeo.

Levantando dinheiro através do site de crowdfunding vakinha.com.br, o filme é uma adaptação do poema No Itinerário de um Trem do livro Um Espaço de Ausência, publicado em 1981, de autoria do próprio Wilson, que também assina a direção e o roteiro do filme.

“O poema fala das estações de trens, fazendo uma metáfora com as pessoas que chegam e saem. É um vai e vem, do trem e das pessoas. Escrevi esse poema nos anos 1980, mas quando veio a ideia de fechar esse filme, lembrei de imediato dele. Após a decisão do mote, fiz uma viagem para o interior de Pernambuco e vi que não poderia deixar de abordar aquelas estações de trem abandonadas. A partir daí eu comecei a trabalhar o roteiro, que tem como partida o poema, mas que não será totalmente guiado por ele”, revela Wilson.

O ENREDO

(Gleison Luiz Nascimento em Encruzilhada dos Trilhos/ Reprodução)

A trama narra a história de Dê Endi (Gleison Luiz Nascimento), um jovem atormentado pela solidão do lugarejo onde vive no Sertão de Pernambuco. Um encontro inusitado com um cego rabequeiro (Thiago Emanoel Martins), o leva a uma viagem extraordinária pelos trilhos da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), onde realidade e delírio se misturam, revelando personagens, lugares e histórias que se cruzam, trazendo temas como preservação de patrimônios históricos e arquitetônicos, êxodo das populações de pequenas para grandes cidades, destino, vida e morte, pobreza e riqueza.

A ideia do cineasta é colocar artes plásticas, música, dança e poesia em um patamar onde possam dialogar diretamente com o desenvolvimento da trama: gravuras assinadas por Guilherme Moraes, músicas de Thiago Emanoel Martins, coreografia de Flaira Ferro, tudo feito para o curta.

“Tentei criar um grupo que já se conhecia muito bem, que olha no olho um do outro e sabe o que o outro quer dizer”, diz o cineasta, que ainda completa especificando o trabalho de Flaira: “A coreografia que ela desenvolveu faz com que o personagem, assim como um trem andando, siga meio bambo, balançando, sacudindo, como se estivesse se equilibrando naqueles trilhos.”

O filme traz no elenco, além de Gleison e Thiago, o músico Igor de Carvalho, Luna Vitrolira e Flaira Ferro. Mesmo com o curta iniciando suas gravações hoje, o valor calculado para que a produção seja totalmente executada ainda não foi alcançado, por isso a campanha de arrecadamento continua em vakinha.com.br/vaquinha/encruzilhada-dos-trilhos.

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