O clima amistoso e nostálgico no qual o filme Chocante - que chega aos cinemas nesta quinta-feira (5) - está envolvido consegue cativar um público saudoso. O roteiro de Bruno Mazzeo, Luciana Fregolente, Pedro Henrique Neschling e Rosana Ferrão consegue imergir numa atemporalidade ao lidar com uma história que se localiza nos anos 1990, mas tem muitos elementos para se desenrolar em 2017, cativando também os mais jovens.
Embora seja uma comédia, o filme também consegue falar sobre melancolia, com uma lição por trás do desastre que é a ideia de retomar um grupo “montado para fazer sucesso” e durou pouco por motivos passionais.
A direção de Johnny Araújo e Gustavo Bonafé é muito bem executada, com destaque ao cuidado da recriação de cenários como o do Sabadão Sertanejo – programa apresentado por Gugu Liberato, no SBT – e do clipe Choque de Amor, situando perfeitamente o auge do Chocante.
Além disso, o filme aproveita para fazer críticas sutis ao mundo das subcelebridades através do personagem Rod (Pedro Neschling). Uma perfeita fotografia dos dias atuais, onde se tenta ganhar likes e seguidores mostrando tudo o que se faz ou deixa de fazer.
O fato de a trajetória do Chocante ser posta em xeque também é uma reflexão sobre a efemeridade de muitas boy bands de sucesso meteórico ao longo dos últimos anos. Afinal, a lista de grupos musicais estrategicamente montados para vender – muitos one hit wonder (de uma música só) – que somem na mesma velocidade que aparecem é relativamente extensa.
Com bons figurinos, a cafonice dos anos 1990 também se faz presente no texto. Quem é bom de pegar referências vai dar boas risadas ao ver, por exemplo, que o parâmetro de sucesso dos quarentões é ser um Afonso Nigro do Dominó, o grupo de pagode Katinguelê ou até mesmo um Fábio Jr.
Com características bem distintas, o espectador consegue se afeiçoar a cada integrante do Chocante. Os destaques ficam por conta de Marcus Majella, e seu “garanhão” Clay, e o motorista de Uber vivido por Bruno Garcia, que faz uma divertida caricatura deste personagem contemporâneo. A storyline de Téo (Bruno Mazzeo) pega mais pela emoção, tanto na relação com o irmão Tim (Lucio Mauro Filho), quanto pela filha Dora (Klara Castanho).
A boa atuação de Débora Lamm como a fanática Quézia se junta à outras participações especiais que não passam despercebidas: Sônia Abrão, Tony Ramos – como o ótimo empresário Lessa – Anderson, do grupo Molejo e até o crítico musical Nelson Motta. Se Chocante não impressionar pela história, duvido que em nenhum momento você ao menos balbucie os versos pegajosos do hit cafona Choque de Amor.