Ode à força da cena metal pernambucana

O primeiro show de Andreas Kisser com o Sepultura foi em Caruaru. Aos 19 anos, o guitarrista estreava em um evento articulado por um garoto seis anos mais novo que, sem imaginar, levou para o Agreste uma das apresentações de metal mais lembradas entre os amantes do gênero por aqui. O ano era 1987 e a memória é uma das muitas resgatadas em Pesado – Que Som É Esse Que Vem de Pernambuco? (Jaraguá Produções), documentário roteirizado pelo jornalista e pesquisador Wilfred Gadêlha, com direção de Leo Crivellare.

Com cerca de 1h40, o registro parte de uma ordem cronológica para desenhar o cenário político e cultural que fez cama para o que hoje é reconhecido como cena desse os primeiros passos. Os sacrifícios para ter acesso aos discos, o alívio pela chegada das primeiras lojas, os primeiros shows, a dificuldade de amar uma cultura estrangeira numa terra folclórica. Tudo isso relatado por inúmeras entrevistas, frutos de conversas com mais de 70 figuras que circularam – e permanecem circulando – por Recife, Jaboatão dos Guararapes, Caruaru, Surubim e tantas outras cidades pernambucanas, movidos pela gana que só o verdadeiro amante de música consegue ter.

As transformações ao longo das décadas, com destaque para a movimentação por vezes incômoda trazida por Chico Science e a caravana manguebeat, aparecem sem tom de lamentação ou busca por um tempo que não volta. Há somente costura entre passado e presente, com vozes veteranas e contemporâneas em material capaz de prender a atenção dos curiosos e emocionar os mais devotos.

O trabalho é o segundo desdobramento de Pesado – Origem e Consolidação do Metal em Pernambuco, livro lançado por Wilfred em 2014 e que já havia dado origem ao programa de rádio transmitido pela Universitária FM. A estreia da versão audiovisual acontece sábado, como encerramento da mostra Play The Movie, organizada pelo festival Coquetel Molotov. Depois, segue o caminho delineado pelo apoio do Funcultura, sendo exibido primeiramente nas redes de televisão locais. Deve, ainda, circular por eventos que promovam interação entre música e cinema.

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