Série em stop-motion 'Angeli The Killer' ganha sessão no Cine São Luiz

'Angeli The Killer', de César Cabral, é uma livre adaptação da obra do célebre cartunista paulistano; hoje, seis dos seus 13 episódios serão exibidos
JC Online
Publicado em 29/11/2017 às 13:10
'Angeli The Killer', de César Cabral, é uma livre adaptação da obra do célebre cartunista paulistano; hoje, seis dos seus 13 episódios serão exibidos. Foto: Foto: Divulgação


As aventuras imorais de Rê Bordosa. A atitude anárquica de Bob Cuspe. As alucinantes viagens de Wood & Stock. A alopração dos Skrotinhos. O que todas essas histórias têm em comum? O humor ácido de Angeli. Agora, se essa trupe nada agradável já causava lá nos anos 1980, nas tirinhas veiculadas pela revista Chiclete com Banana, imagina em movimento? É o que mostra a série em stop-motion Angeli The Killer, de César Cabral, uma livre adaptação da obra do célebre cartunista paulistano, que terá seis dos seus 13 episódios exibidos hoje, às 20h30, no Cine São Luiz, como parte da Sessão Mostra Especial do Festival Animage.

Angeli The Killer - Trailer from Coala Filmes on Vimeo.

No meio de tantas criações irreverentes, a caricatura do próprio autor vem a calhar na animação. O que já havia sido feito na história Los Três Amigos, também publicada pela Chiclete com Banana. Nela, Angeli "encarnava" Angel Villa, ao lado dos seus companheiros de longa data e também autores de humor Laerte e Glauco, aliás, Laerton e Glauquito. Em The Killer, Angeli volta a interpretar seu alter ego. Só que dessa vez, o personagem foi concebido pelos rascunhos de outra pessoa. E isso é o que torna a animação tão bacana. Essa possibilidade de ver criador e criaturas interagindo, sob o olhar aguçado de um grande fã da vida e obra do cartunista.

"Sempre fui muito admirador do Angeli. Lia muito Chiclete com Banana, cresci nesse universo da editora Circo. Então, quando eu me formei em cinema e comecei a trabalhar com animação, meu primeiro projeto foi logo o quê?", indagou César, 45, falando sobre seu curta-metragem Dossiê Rê Bordosa (2008), um documentário em stop-motion que procura desvendar os reais motivos que levaram o autor a assassinar sua mais famosa personagem, a boêmia Rê Bordosa. "Foi a partir desse curta que eu tive a ideia de fazer a série. Como Angeli gostou bastante do Dossiê, aceitou a proposta. Daí, foi um curto passo para o Canal Brasil se interessar também", comentou, ressaltando que o projeto só saiu do papel após ser contemplado pelo Fundo Setorial do Audiovisual, em 2014.

Dossiê Rê Bordosa from Coala Filmes on Vimeo.

Assim como no Dossiê, a série é uma espécie de documentário fictício, na qual Angeli é o grande entrevistado. "Para fazer a entrevista, eu já chegava na casa dele com um assunto a ser discutido, com certa estrutura narrativa na cabeça. Só que às vezes a gente acabava fugindo do tema e tudo mudava depois das nossas elucubrações", riu, enfatizando que algumas entrevistas chegavam a durar duas horas ou mais. A cada episódio, a animação traz uma abordagem diferente, mas sempre dentro da pegada do artista, com temática urbana e crítica de costumes. Os nomes dos capítulos, inclusive, já dão uma ideia bem nítida do que o espectador deve esperar. A exemplo do super bem-humorado Ócio, Procrastinação e Falta do que Fazer, embalado pela típica crônica social de Angeli.

No episódio piloto, intitulado Tara, Tabu e Tubaína (um refrigerante típico do interior do Estado de São Paulo), Mara Tara ganha carne e osso, personificada no corpo da atriz Alessandra Negrini. Em meio ao stop-motion, a personagem vira uma coisa meio King Kong, uma devoradora de homens agigantada. É quando fica perceptível que a série vai bem além dos laboriosos bonecos de massinha. "A Chiclete com Banana foi nossa fonte de inspiração pra tudo, esse exercício de mesclar animação com live-action, de misturar linguagens e recursos, a revista já fazia. Além das tirinhas, ela trazia fotonovela, sessão de poesia etc", afirmou César. Proposta que pode ser percebida também através da narração de locutores, uso de imagens da revista e imagens de arquivo, e nas psicodélicas animações em 2D ou 3D após a vinheta "Momento Psicodélico", espaço destinado a animadores convidados.

Após 18 meses de intensa produção, a série foi lançada em abril deste ano pelo Canal Brasil. Indiretamente, contou com cerca de 50 pessoas na equipe, incluindo os responsáveis pelo som, montagem e finalização. "Tínhamos um revezamento na produção, mas sempre contávamos com umas 20 pessoas fixas. Mesmo assim, foram produzidos, em média, oito minutos por mês, o que não dá nem um episódio inteiro, que tem cerca de 11", contou César. Hoje, pela primeira vez Angeli The Killer será exibido numa sala de cinema. Só por isso já vale a pena. Por ver Angeli dublar sua versão animada também. É impagável.

Longa-metragem

Infelizmente, César Cabral não poderá comparecer à Mostra Especial no Cinema São Luiz porque mergulhou de cabeça já num outro projeto: Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente, longa-metragem em stop-motion previsto para ser lançado em 2018. Será que ele curte o trabalho de Angeli? Não restam dúvidas.

"Eu cresci na periferia de São Paulo e o universo da música punk sempre me interessou. Então, o personagem dialoga muito comigo", declarou o diretor, antecipando que veremos um Bob Cuspe mais velho e mais próximo do traço atual do cartunista. "Ele vai viver numa espécie de mundo pós-apocalíptico, com minis Elton John invadindo o espaço dele, uma metáfora do pop contra o punk". Inclusive, segundo César, foi o próprio Angeli que um dia virou para ele e falou que o icônico Bob Cuspe renderia um bom filme. Concordamos.

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