Qual o tamanho do seu amor? Talvez esta seja a principal provocação do filme nacional Altas Expectativas, que estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas. O trocadilho da frase inicial pode até parecer infeliz já que estamos tratando de um filme protagonizado por um portador de nanismo, mas isso definitivamente é o que menos importa no longa. Afinal, Décio (Gigante Leo) é mais um entre todas as pessoas “normais” que está em busca do amor da sua vida.
Por esse não-vitimismo do protagonista, o longa já ganha pontos positivos. As dificuldades de ser anão, claro, estão ali, mas não são elas o seu maior obstáculo. Vencer a timidez, mesmo sabendo que é a única pessoa capaz de fazer a tristonha Lena (Camila Márdila) mais feliz, poderá cativar o público ao longo da trama, dirigida e escrita por Pedro Antonio e Álvaro Campos.
“O deficiente está de saco cheio de ser retratado como coitadinho, como o cara que está sofrendo o tempo todo. Eu acho que as pessoas com deficiência têm milhares de dimensões, qualidades e atributos. Mas insistimos em olhar através do estigma. No filme, a gente queria quebrar isso”, diz o diretor Álvaro Campos por telefone ao Jornal do Commercio.
Baseado em fatos reais, Altas Expectativas foi inspirado no romance do próprio humorista Leonardo Reis (Gigante Leo) com sua esposa Carol, de 1,65m. Anteriormente, o casal participou do premiado curta-documentário Leo & Carol – também de Álvaro Campos – que serviu como um laboratório para a construção do longa. Ao todo, foram três anos de concepção deste projeto.
Além de Gigante estrear como protagonista (além de ser colaborador no roteiro) e contracenar com Camila, nomes como Milhem Cortaz, Maria Eduarda de Carvalho e Felipe Abib completam o elenco, trazendo as participações especiais de Gustavo Mendes, Tiago Abravanel, Agildo Ribeiro e a pernambucana Fabiana Karla.
“Acho que escolher uma história que tem um anão como protagonista já é uma atitude extremamente ousada. Mas quero que o público veja o que ele tem de mais rico e delicado, que é como o personagem enfrenta os medos e angústias através do amor que está buscando”, diz o diretor Pedro Antonio ao JC, que se empenhou em trazer enquadramentos diferenciados de câmera, inclusive com sequências que nos levam a entender o olhar exato de um personagem verticalmente prejudicado.
Com trilha sonora original da banda carioca Do Amor, Altas Expectativas também cativa no aspecto musical. A atuação de Maria Eduarda de Carvalho como Lia, a melhor amiga de Décio, é outro achado que vale prestar atenção. E, ao oscilar entre drama e comédia, a obra tem trechos do show de stand-up comedy do Gigante Leo e, nos créditos finais, emociona com imagens reais do casamento com Carol.
A simplicidade do filme compensa pela densidade e delicadeza do tema, algo que orgulha o protagonista: “Mais que uma boa bilheteria, minha expectativa é fazer com que a sociedade olhe as pessoas com nanismo com outro olhar. Um olhar de igualdade também sobre a arte. Onde anões possam fazer outros papeis que não sejam necessariamente de anão, mas também de mocinho, de vilão. É isso que eu espero”, disse o Gigante em conversa com o JC.