À primeira vista, Jumanji: Bem-Vindo à Selva, longa-metragem dirigido por Jake Kasdan como uma sequência tardia do filme homônimo de 1995, parecia ser, no mínimo, desnecessário. A legião de fãs formada pela Sessão da Tarde não havia recebido bem a notícia da nova produção, que não se encaixa nem como remake nem como reboot, mas sim como uma continuação com ares de independência da obra original, baseada no livro de Chris Van Allsburg. Felizmente, Jumanji 2 superou as críticas precipitadas que recebeu e conseguiu preservar a integridade do clássico de aventura, despontando como segundo colocado nas bilheterias norte-americanas e canadenses no fim de semana prolongado de Natal, com 55,4 milhões de dólares arrecadados. Perdendo nas cifras apenas para Star Wars: Os Últimos Jedi, o filme começa a ser exibido nesta quinta-feira (28) nos cinemas brasileiros e é, sem dúvidas, uma da surpresas mais positivas deste fim de ano.
Divertido do começo ao fim, Jumanji 2 funciona bem porque não tem nenhuma pretensão além de divertir. Com uma nova roupagem, o filme deixa um pouco de lado o suspense infantil e foca no humor e nas cenas de ação, com o intuito de fisgar a nova geração. O que era um letal jogo de tabuleiro – que abre um portal no espaço-tempo no longa estrelado por Robin Williams nos anos 1990 – agora reaparece como uma fita de videogame. Assim como os quatro jogadores não são mais crianças ao ter o primeiro contato com o jogo, mas adolescentes. Estes, reunidos para uma detenção no porão da escola, se deparam com a fita amaldiçoada e são sugados pela TV ligada ao console, condenados a ingressarem na floresta de Jumanji. Exatamente o contrário do que acontece no primeiro filme, onde as criaturas malignas invadem o mundo real.
Levar o espectador para, finalmente, conhecer Jumanji – onde Alan Parrish (Robin Williams) viveu por 26 anos até conseguir voltar para a sua casa em Bratford, New Hampshire – é certamente uma das propostas mais interessantes do filme. Inclusive, Alan é mencionado algumas vezes ao longo da trama, para o agrado dos mais saudosistas. Além dessa mudança de “ares”, a inversão de papéis por meio de uma troca de corpo foi substancial para o sustento da trama, calcada na comédia de estereótipos. É impagável ver o sensacional Jack Black “na pele” de uma adolescente metidinha e popular, cuja única preocupação é descobrir qual é o melhor ângulo para sua selfie. Isso acontece quando a jovem Bethany (Madison Iseman) cai dentro do jogo com o avatar do professor Shelly Oberon, "homem obeso de meia-idade" vivido pelo comediante.
Fora Jack Black, o também ator e comediante Kevin Hart dá um show de atuação como Moose Finbar, medroso personagem que teve seu tamanho e coragem reduzidos pela metade durante a partida, na qual ele deixou de ser o atleta “machão” Anthony Fridge (Ser'Darius Blain). Já os nerds Spencer (Alex Wolff) e Martha (Morgan Turner) viram o centro das atenções quando se transformam, respectivamente, no musculoso Dr. Smolder Bravestone (Dwayne Johnson) e na sexy Ruby Roundhouse (Karen Gillan), uma espécie de guerreira amazona “matadora de homens”. O doutor interpretado por Dwayne, lutador americano conhecido pelo nome The Rock, rouba a cena várias vezes, mas todos os personagens brilham à sua maneira.
Lembrando filmes que exploram a narrativa dos videogames como Scott Pilgrim Contra o Mundo e Detona Ralph, Jumanji 2 brinca de forma satisfatória com esse conceito. Todos os protagonistas têm habilidades dignas de um RPG, a exemplo da dança-luta de Ruby e da grande velocidade e força do Dr. Bravestone. O professor Shelly, por sua vez, pode ler mapas invisíveis aos olhos dos outros, enquanto Finbar tem a “incrível” capacidade de carregar armamentos e suplementos em sua mochila, equipamento bem conhecido pelos gamers que se aventuram pelos jogos de mundo aberto. Além das habilidades e fraquezas, das mochilas e mapas, outros elementos associáveis a esse universo são as missões e vidas – os aventureiros possuem uma tatuagem no braço com três traços que representam três vidas, os quais vão se apagando até que cada um chegue ao temido game over. Outra boa sacada foi fazer com que os personagens “não-jogáveis” reproduzissem apenas frases prontas, num modo loop de repetições que obrigam os personagens a uma tomada de decisão.
No jogo, a missão principal é salvar Jumanji das garras do tenebroso Van Pelt (Bobby Cannavale), homem que roubou a joia do Olho do Jaguar e passou a ter controle sobre todos os animais da floresta, dos pequenos besouros aos gigantescos rinocerontes. Para isso, os players precisam resgatar a joia e devolvê-la à estátua do jaguar, que fica no centro da floresta. Isso sem esquecerem de gritar “Jumanji!”, como de praxe. Caso contrário, eles ficam presos para sempre dentro do game. Durante a jornada, os quatro acabam encontrando Alex Vreek (Nick Jonas), o responsável por encontrar o tabuleiro na areia da praia em 1996, como foi visto na última cena do filme clássico. Sem se dar conta, Alex passa 20 anos em Jumanji, com medo de desperdiçar sua última vida numa complicada missão e nunca mais ir embora. O personagem, que é um piloto de hidroavião, acaba sendo a peça-chave para o grand finale.
A escolha do ex-Jonas Brothers para o elenco provavelmente foi mais uma das iscas para atrair um novo público para o filme. O que foi um tiro certeiro. Todavia, um ator de porte como Bobby Cannavale, que atuou em séries como Vinyl e Boardwalk Empire, poderia ter sido melhor aproveitado. O espectador sequer fica sabendo como Van Pelt foi parar em Jumanji ou por que virou o vilão da história, o que dá a entender que ele era mais um dos personagens “programados”, só que o “chefão”. Tirando esse ponto e algumas explanações para piadas e tiradas óbvias, o filme cumpre bem o seu papel como sequência e produto para toda a família, tendo como desfecho uma lição de moral sobre aceitação, diversidade e preconceito. Não é uma produção que vai ficar gravada na memória, mas garante boas risadas, tal qual seu propósito.