Clássico do cinema nacional, 'O Bandido da Luz Vermelha' volta a ser exibido em película

Celebrado filme de Rogério Sganzerla, 'O Bandido da Luz Vermelha' volta a ser exibido em película 35 mm
Estadão Conteúdo
Publicado em 20/02/2018 às 9:02
Celebrado filme de Rogério Sganzerla, 'O Bandido da Luz Vermelha' volta a ser exibido em película 35 mm Foto: Foto: Urânio Filmes/Divulgação


O Bandido da Luz Vermelha, clássico do cinema brasileiro dirigido por Rogério Sganzerla (1946-2004), volta a ser exibido em tela grande, e agora em seu suporte original, em cópia de 35 mm. A iniciativa é do Cinesesc, que criou a Sessão 35 mm para "reavivar a experiência do cinema em película".

Assim como existem apreciadores de música que preferem os velhos bolachões analógicos, existem cinéfilos que não se conformam com o cinema digital e o consideram inferior à antiga película de celulose. Um deles era o grande diretor Carlos Reichenbach (1945-2012). Carlão dizia que, com o desenvolvimento do negativo em película, o cinema havia se aproximado da perfeição da pintura, para então regredir ao estágio do digital, para ele chapado, sem graça e sem nuances.

História

Enfim, esta é uma discussão interminável. Fica a possibilidade de experimentar de novo uma obra-prima, da maneira como foi concebida por seu autor. O esplendoroso preto e branco retrata uma São Paulo em transe. O filme situa-se naquela dobra esquizoide de 1968, quando o Brasil ingressa na segunda fase da ditadura e o Cinema Novo já não é mais visto pelos jovens cineastas como porta-voz da oposição estética ao regime.

Nesse momento afirma-se a alternativa crítica ao Cinema Novo, chamada de "cinema marginal", embora seus autores não gostem do título. Engloba as obras de criadores como Ozualdo Candeias, José Mojica Marins, o próprio Rogério Sganzerla, Julio Bressane e outros.

O Bandido é paradigma da nova proposta. Baseado na vida do assaltante João Acácio, narra as aventuras do criminoso da moda, estrela dos pasquins policiais. Paulo Villaça interpreta o ladrão, que se autodefine como "boçal". O clima todo é de esculacho e desespero, fixado numa metrópole caótica e suja, prestes a explodir.

Sganzerla filma em tom de paródia, usando narração radiofônica, feita de humor e ironia. O trabalho de câmera é notável. Cheio de vida, sarcasmo e amargura, o filme não se resolve de maneira política. Apenas aponta para impasses e o faz com enorme talento e alegria de filmar. Um prazer para os olhos.

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