Com a exibição de 75 filmes de 32 países, o Festival Brasil Stop Motion, que acontece no Cinema da Fundação/Derby e Museu até a próxima quarta-feira, traz para o País um panorama atualizado do que está sendo feito de melhor nesta fascinante modalidade de animação. Além de dar acesso a essa produção que, por si só, é um deleite para os olhos, o festival ainda promove importantes ações de formação. Este ano, dois artistas russos – o animador Stanislav Sokolov e o criador de bonecos Igor Khilov – e três especialistas cubanos – o produtor Aramis Acosta e os roteiristas Yohan Madrigal e Pedro Hernández – foram convidados a dar master classes e oficinas para mais de 300 alunos recifenses, que se interessaram em pela animação stop motion e em contar histórias.
De acordo com Aramis Acosta, toda a produção do seu País é bancada pelo Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, uma instituição governamental que já tem 60 anos de história. Desde sempre, a produção cinematográfica cubana é conhecida mundialmente pela continuidade e a qualidade. Convidado também para ser jurado do festival, Aramis, que trabalha há 40 anos na Faculdade de Comunicação de Havana, atualmente como professor do programa de mestrado, costuma falar em suas classes de como se faz animação de baixo custo.
“Temos produzido, fundamentalmente, a animação tradicional (2D) e depois, com as novas tecnologias, a animação 3D. O stop motion é uma linha de produção dos últimos 15 anos. Eu trouxe quatro filmes e alguns making ofs para serem exibidos aos alunos. Nas aulas, falo da estrutura dramática, como funciona os estúdios de animação em Cuba, sua história e porque assumimos essa linha de produção. Apesar de termos poucos recursos, fazemos os filmes com qualidade, aprendendo a substituir os materiais das produções dos grandes estúdios e buscando soluções práticas com arames, caixas e papel, para, a partir daí, usando esses materiais pobres, fazer uma obra de arte”, explica.
Um dos exemplos que o produtor mostra para os alunos é o curta Horizonte, realizado durante uma oficina ministrada por animadores dinamarqueses em Havana. Dois estudantes de Aramis fizeram a oficina, de apenas duas semanas, e no final participaram de um exercício, que foi fazer um filme de três minutos em stop motion com esqueletos feitos de arame. “O resultado foi um trabalho muito poético, com uma história bem contada, com qualidade e quase nenhum recurso. É possível, para países pobres, fazer arte sem recorrer à grande indústria”, acredita o produtor, também um grande admirador da animação brasileira, que costuma exibir em suas aulas a premiada animação cearense Vida Maria, de Marcio Ramos, realizada em 3D, em 2006.
Com larga experiência universitária em Cuba e em oficinas realizadas em países latino-americanos, os professores Yohan e Pedro trazem para suas aulas de roteiro alguns métodos de ensino inovadores. Embora o comum seja trabalhar a construção do roteiro, eles se apoiam em duas instâncias que são complementares e não-excludentes: a investigação para a sua construção e sua construção em si mesmo.
“No primeiro encontro, geralmente abordamos quase todos os elementos necessários ou suficientes do ponto da investigação para a construção de um bom roteiro. A primeira coisa a se fazer é investigar a ideia do realizador para, finalmente, chegar a escrever esse roteiro. A investigação em arte audiovisual ainda não é um tema muito explorado, principalmente seu caráter científico”, aponta Pedro Hernández.
A investigação começa sobre o conteúdo do tema a desenvolvido e se completa, numa segunda etapa, com o trabalho de cada um dos profissionais envolvidos no filme, de forma que o o fotógrafo, o editor, o sonoplasta e o produtor, entre outros, também são investigadores. “Compreender a importância do processo de investigação para a criação do roteiro, não vê-lo como algo separado de um processo precedente, que até agora não havia sido visto dessa maneira, é um fundamento muito importante”, aponta Yohan Madrigal.
Nas aulas, Yohan e Pedro projetam obras audiovisuais cubanas para demonstrar aos alunos a estrutura básica de um roteiro de animação. Depois, explicam o passo para a sua elaboração, os elementos que devem ter em conta e a disposição deles para os exercícios práticos realizados dentro da oficina.
“Nós sempre esperamos que os alunos tenham a capacidade de perceber qual o tema, os conflitos, caracterizar os personagens, saber quais as cenas mais importantes na obra e qual o momento em que se apresenta o seu desenlace”, observa Yohan.
Durante as aulas, os alunos se reúnem em grupo para a discussão dos temas apresentados e depois começam a dar os primeiros passas na escritura do roteiro. “Estamos pensando que, quem sabe, alguns desse projetos possam ser apresentados na próxima edição do festival”, arrisca Pedro.