Já se foram 18 anos desde que Ron Howard trouxe para os cinemas a fábula natalina O Grinch, baseado na obra de Dr. Seuss, celebrado autor infantil frequentemente adaptado para as telinhas e telonas. Agora, a ranzinza criatura verde, que ganhou vida sob as vozes e trejeitos de Jim Carrey, retorna em animação para destilar seu desprezo pelo Natal mais uma vez, retomando premissas e personagens do filme de 2000, mas com um menor fôlego narrativo, apesar do apurado visual.
O Grinch volta com o estúdio Illumination, que já adaptou outra obra de Seuss, O Lorax (2012), além de ser responsável pela máquina de fazer dinheiro Meu Malvado Favorito e Minions. Agora, é mais um Natal na fantástica Quemlândia, habitada pelos felizes e peludos Quem e, para o desprazer mental do personagem-título, a festividade promete ser três vezes maior que de costume, dificultando a prática de sua indiferença e estimulando um plano para acabar com a celebração. Paralelamente, a garotinha Cindy Lou arma também um plano, para tentar sequestrar Papai Noel e fazer um pedido pessoalmente, para ajudar sua família.
Ter essa simples trama não é justificativa para não desenvolver bem seus personagens e é isso que, infelizmente, O Grinch faz. Não se trata de cobrança por complexidades que não dialoguem com o público infantil, mas, sim, de uma profundidade que torne os personagens e suas motivações mais palpáveis, para qualquer idade que tenha o espectador. Isso fica claro quando olhamos para filmes como a recente animação infantil PéPequeno, que, além de construir bem a razão de ser, as escolhas e os afetos de seus personagens, ainda traz uma poderosa mensagem.
Assim, temos um protagonista que consegue extrair carisma com sua personalidade rabugenta e antipática, mas não é tão feliz em conseguir criar um laço de empatia, ponto primordial na construção de qualquer personagem principal. O roteiro de Michael LeSieur e Tommy Swerdlow cimenta toda justificativa pelo Grinch ser o que é com um rápido flashback, até conseguindo criar um contexto para compreendermos suas atitudes, mas faltando uma solidez nesse elo com o público. O mesmo acontece com a trama de Cindy Lou, um pouco mais embasada que a do monstro verde, mas que acaba sendo prejudicada pela fragmentação do tempo de tela.
Em contraponto, o aspecto visual da animação funciona bem, principalmente em relação a movimentos e expressões faciais, o que passa longe de ser um desafio para a equipe da Illumination. Em sua linguagem corporal, o novo Grinch não fica atrás do excelente trabalho de Jim Carrey na versão de 2000, sendo ainda munido das possibilidades que uma animação traz. Seu único defeito reside na adaptação brasileira com a voz do talentoso Lázaro Ramos, que acaba não conseguindo se livrar totalmente da simpatia de sua voz, qualidade que não conversa bem com o mau humor da criatura verde.
Com algumas boas piadas, outras nem tanto, além de um elenco de personagens fofos, mas unidimensionais, o projeto até mostra que havia ali um potencial para ser uma fábula de destaque no meio da enxurrada de obras natalinas. Talvez o Grinch esteja feliz por não ser agora que fará parte das grandes diversões de Natal.