Estreia

Crítica: 'Amanda' e o espaço público como resistência

O filme francês cria um drama inspirador sobre um entorno tensionado

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 09/05/2019 às 13:05
Foto: Imovision/Divulgação
O filme francês cria um drama inspirador sobre um entorno tensionado - FOTO: Foto: Imovision/Divulgação
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Talvez na história do cinema recente, poucos filmes enxergaram no espaço público uma efervescência política latente. Algumas obras contemplaram perfeitamente sua gentrificação, em um caráter até fatalista de documentar o que, de fato, é a realidade. Amanda – que estreia hoje no Moviemax Rosa e Silva, surge em um movimento oposto.

Drama que tem o ponto focal no luto – quase marca autoral do diretor Mikhaël Hers –, o filme conta a história de David, jovem de 20 anos, que é encarregado de cuidar da sua sobrinha Amanda, quando sua irmã é assassinada em um atentado terrorista numa praça de Paris.

A história é base para uma política de elipses que têm o espaço público (ruas, praças e parques) como uma forma de resistência dentro de uma cidade sob o espectro do terrorismo. O drama é posicionado sobre esse entorno, criando tensões sutis entre os personagens e a cidade que circulam.

Tensões que pulsam mais fortes quando guardas armados proíbem a garota e o tio de entrarem em uma praça pública, por exemplo. “Não é um bom dia para passear em Paris” chega a alertar um deles. Até de forma mais implícita, como no zoom-out de uma cena que revela os personagens sobre um entorno belicosamente sugestivo. Tudo isso, importante ressaltar, sem cair nas vias gratuitas do gráfico. O terror pelo terror, como a maioria dos filmes que retrataram o terrorismo nos dias atuais. Bom exemplo disso é quando a câmera chega a fugir de uma televisão que noticia o atentado que vitimou uma das personagens.

Embarque

Isso não quer dizer que o filme não confronte a realidade. Há em Amanda uma impossibilidade de didatizar situações – e não é, em nenhum momento, o que o filme tenta fazer. O que soa próximo ao filme anterior do Hers, Aquele Sentimento do Verão, onde a personagem, que gera todo luto – motor do drama –, morre nos cinco minutos iniciais, sem qualquer interação com os outros que acompanhamos durante o longa. O que resta? Apenas embarcamos em todo aquele processo.

Esse artifício é perfeito para Amanda. Não há a presunção do politiquês – e não é nenhuma fuga disso, as tensões estão todas ali.

Mas não é só delas que o filme vive. O longa também é sobre a superação do luto, da humanização de todo um redor cruel e da extração da beleza diante disso tudo. Até por isso, dentro desse entorno, Amanda é composto, na sua maioria, por imagens contemplativas de corpos em comunhão e das relações que afloram em praças, parques e ruas. 

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