CINEMA

Revolta estudantil em São Paulo foi revista em documentário no Cine PE

Espero Tua (Re) Volta, de Eliza Capai, é narrado por três estudantes que participaram das manifestações de 2015

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 04/08/2019 às 13:13
Globo Filmes/Divulgação
Espero Tua (Re) Volta, de Eliza Capai, é narrado por três estudantes que participaram das manifestações de 2015 - FOTO: Globo Filmes/Divulgação
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O 23º Cine PE: Festival do Audiovisual chega neste domingo (4/8) ao último dia, com a cerimônia de entrega do troféu Calunga, outorgado aos melhores filmes das Mostras Competitivas, marcada para acontecer às 19h30, no Cinema São Luiz. Ao contrário de outras edições, não haverá sessão de encerramento este ano.

Na sexta-feira, o Cine PE teve uma de suas melhores noites, com o Cinema São Luiz lotado e uma seleção de filmes bem acima da média dos dias anteriores. Certamente, foi a expectativa da exibição do documentário Espero Tua (Re) Volta, da capixaba Eliza Capai, que acendeu os ânimos do público, formado por espectadores mais jovem do que o normal do festival.

Depois da passagem pelo Festival de Berlim, em fevereiro, onde representou o Brasil na Mostra Geração, sendo agraciado com os prêmios da Anistia Internacional (AI) e da Paz, concedido pela Fundação Heinrich Böll, ver o filme era quase uma obrigação. Na ocasião, a atriz austríaca Feo Aladag, que participou do júri da AI, disse ao entregar o prêmio à Eliza: “Imaginem que seus filhos saem às ruas porque o governo quer fechar as escolas e são recebidos com bombas de gás lacrimogêneo e pancadas”.

Terceiro longa-metragem de Eliza Capai, o primeiro em que ela obteve recursos públicos para sua realização, Espero Tua (Re) Volta, é um dos documentários mais empolgantes e inteligentes do cinema brasileiro. Sem dúvida, tem a mesma importância que Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho, teve para a geração que testemunhou a luta pela redemocratização do País, naquela década. O filme está anos-luzes de ser um documentário que apenas toma emprestado as imagens da revolta dos estudantes de São Paulo, em 2015. Eles enfrentaram uma decisão do governador Geraldo Alckmin, que decretou o fechamento de quase uma centenas de escolas secundaristas. Principalmente, Espero Tu (Re) Volta é um filme vivo e em movimento. Eliza visitou escolas no epicentro da manifestações e reprocessa o que aconteceu naqueles dois meses, retrocedendo também para os eventos de 2013, com as ações e as memórias de três estudantes que participaram de todos os momentos da luta, até que o governo desistisse do decreto.

Com as vozes, ações e impressos de Marcela Jesus, Nayara Souza e Lucas ‘Koka’ Penteado, Eliza engata uma narrativa inovadora e envolvente em que o espectador se sente no olho do furação das manifestações, sentindo o tremor da cada bomba e o terror de cada violência policial. O filme cruza imagens de 2013 até o ano passado, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

CURTAS

A noite de sexta foi marcante também pela quantidade de curtas exibidos. Foram oito ao todo, entre eles alguns que podem ser considerados os mais instigantes e bem produzidos do festival. Quase todos poderiam ser destacados, mas os melhores foram os brasilienses O Mistério da Carne, de Rafaela Camelo, e A Margem do Universo, de Tiago Esmerado; o cearense Tommy Brilho, de Sávio Fernandes; a animação paranaense Vivi Lobo e o Quarta Mágico, de Isabelle Santos e Edu MZ, e o documentário maranhense 3X Melhor, de Andriolli Araújo.

O Mistério da Carne poderia ter sido dirigido por Pedro Almodóvar, quando era jovem, claro, com seu requinte visual e irrefreável paixão, na história de uma menina que deseja uma coleguinha. Se fosse menos dialogado e um pouco mais curto, a ficção científica A Margem do Universo estaria de bom tamanho. E nenhum filme foi mais divertido que Tommy Brilho, sobre um estudante invisível que faz tudo para ficar com o seu crush.

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