Pacarrete é o grande vencedor do Festival de Gramado 2019

Longa-metragem paraibano ganhou oito troféus Kikitos, inclusive o de Melho Filme
Ernesto Barros
Publicado em 26/08/2019 às 14:37
Longa-metragem paraibano ganhou oito troféus Kikitos, inclusive o de Melho Filme Foto: Cleiton Thiele/Divulgação


A produção cearense Pacarrete, de Allan Deberton, foi a grande vencedor da Mostra Competitiva de Longas-metragens Brasileiros da 47ª edição do Festival de Gramado, na Serra Gaúcha, com oito troféus Kikitos, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz (Marcélia Cartaxo), Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (João Miguel), Melhor Atriz Coadjuvante (Soia Lira), Melhor Roteiro, Melhor Desenho de Som e Júri Popular. A cerimônia de premiação aconteceu na noite do último sábado (24/8), no Palácio dos Festivais, no centro de Gramado.

Saudado calorosamente na noite de estréia, Pacarrete confirmou o favoritismo e o talento extraordinário de Marcélia Cartaxo. A atriz nascida em Cajazeiras, na Paraíba, que já era conhecida pela personagem Macabéa, do filme A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral, tem agora outra criação imortal para carregar em sua vida. A personalidade excêntrica de Pacarrete, uma bailarina e professora que sonha em dançar na festa de 200 anos da cidade Russas, causou uma comoção em cada espectador.  

Na Mostra de Curtas-Metragens Brasileiros, o júri resolveu ser ecumênico e premiou nove dos 14 filmes que concorriam na categoria. O pernambucano Marie, de Léo Tabosa, ganhou o Troféu de Melhor Ator (Rômulo Braga) e um Prêmio Especial do Júri para as atrizes Divina Valéria e Wallie Ruy, “por nos permitirem vivenciar deslocamentos corporais inesperados e por imaginarem um futuro travesti no País que mais mata trans no mundo”. Marie ainda ganhou o Prêmio da Crítica Abraccine e o Prêmio Aquisição Canal Brasil.  

Durante a entrega dos troféus – além dos longas-metragens brasileiros, o festival premiou filmes nas Mostras Competitivas de Curtas-metragens Brasileiros, Longas-metragens Estrangeiros e Longas-metragens Gaúchos –, diretores, produtores, atrizes, atores e técnicos que subiram ao palco para receberem seus prêmios, aproveitaram o momento para protestar contra as medidas do presidente Jair Bolsonaro, que vem ameaçando fechar a Ancine e já censurou propostas de filmes e séries com temática LGBT de um edital das TVs públicas.

Além das falas contra as ameaças à Ancine, houve também muitos protestos relativos às queimadas na Amazônia. O primeiro discurso de resistência veio do presidente da Gramadotur, Edson Néspolo, que lembrou o fechamento da Embrafilme, extinta pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo, em 1990. “Em 1992, ficamos sem filmes brasileiros para participar do festival, mas não desistimos e abrimos espaço para os filmes latino-americanos. Não vamos deixar isso acontecer de novo”, afirmou.

O clima também pesou na passagem dos artistas pelo tapete vermelho, na famosa rua coberta, que termina em frente ao Palácio dos Festivais. Pouco antes de começar a cerimônia, vários bolsonaristas jogaram latas, copos de plásticos e lixo nos artistas. Enquanto recebiam os troféus, os cineastas premiados revelaram à plateia o que havia acontecido. Quando o cineasta paranaense Walkir Fernandes subiu ao palco para receber o troféu de Melhor Curta-metragem Brasileiro pelo filme Apneia, codirigido com a mulher, a animadora Carol Sakura, ele disse que o lixo por pouco não atingiu a filha deles, que estava em seus braços.

Na Mostra Competitiva de Longas-Metragens Estrangeiros, o júri acertou ao dividir os prêmios, pois a seleção contou com vários filmes do mesmo nível de qualidade.  A produção costa-riquense El Despertar de las Hormigas, de Antonella Sudasassi, ganhou o Kikito de Melhor Filme, uma menção honrosa para as atrizes-mirins Isabella Moscoso e Avril Alpizar e o Prêmio da Crítica Abraccine.  O thriller uruguaio En el Pozo e a ficção chilena Perro Bomba também foram agraciados com troféus importantes.

 

 VENCEDORES DO 47º FESTIVAL DE GRAMADO 2019

 

Longas-metragens Brasileiros

Melhor Filme: Pacarrete, de Allan Deberton

Melhor Direção: Allan Deberton, por Pacarrete

Melhor Ator: Paulo Miklos, por O Homem Cordial

Melhor Atriz: Marcélia Cartaxo, por Pacarrete

Melhor Roteiro: Allan Deberton, André Araújo, Natália Maia e Samuel Brasileiro, por Pacarrete

Melhor Fotografia: Edu Rabin, por Raia 4

Melhor Montagem: Joana Collier e Fernanda Krumel, por Hebe

Melhor Trilha Musical: Sascha Kratzer, por O Homem Cordial

Melhor Direção de Arte: Tulé Peake, por Veneza

Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Castro, por Veneza e Soia Lira, por Pacarrete

Melhor Ator Coadjuvante: João Miguel, em Pacarrete

Melhor Desenho de Som: Rodrigo Ferrante e Cauê Custódio, por Pacarrete

Prêmio especial do Júri: 30 Anos Blues

Júri da Crítica: Raia 4, de Emiliano Cunha

Melhor filme do Júri Popular: Pacarrete, de Allan Deberton

 

Longas-metragens Estrangeiros

Melhor Filme: El Despertar de Las Hormigas, de Antonella Sudasassi Furnis

Melhor Direção: Juan Cáceres, por Perro Bomba

Melhor Ator: Fernando Arze, por Muralla

Melhor Atriz: Julieta Díaz, “La Forma de las Horas

Melhor Roteiro: Bernardo e Rafael Antonaccio, por En el Pozo

Melhor Fotografia: Rafael Antonaccio, por En el Pozo

Prêmio Especial do Júri: para as meninas Isabella Moscoso e Avril Alpizar do filme El Despertar de las Hormigas, por suas excelentes atuações.

Menção Honrosa: para a Direção de Arte de Dos Fridas

Júri da Crítica: El Despertar de Las Hormigas, de Antonella Sudasassi Furnis

Melhor filme Júri Popular: Perro Bomba, de Juan Cáceres

 

Longas-metragens Gaúchos

Melhor filme: Raia 4, de Emiliano Cunha

 

Curtas-metragens Brasileiros

Melhor Filme: Apneia, de Carol Sakura e Walkir Fernandes

Melhor Direção: Diogo Leite, por O Menino Pássaro

Melhor Ator: Rômulo Braga, por Marie

Melhor Atriz: Cassia Damasceno, por A Mulher que Sou

Melhor Roteiro: Renata Diniz, por O Véu de Amani

Melhor Fotografia: Sebastián Cantillo, por A Ética das Hienas

Melhor Montagem: Daniel Sena e Thiago Foresti, por Invasão Espacial

Melhor Trilha Musical: Carlos Gomes, em Teoria Sobre Um Planeta Estranho

Melhor Direção de Arte: Gutor BR, por Sangro

Melhor Desenho de Som: Gustavo Soesi, por Um Tempo Só

Prêmio Especial do Júri: para as atrizes Divina Valéria e Wallie Ruy, em Marie, por nos permitirem vivenciar deslocamentos corporais inesperados e por imaginarem um futuro travesti num país que mais mata trans no mundo.

Júri da Crítica: Marie, de Leo Tabosa

Melhor Filme Júri Popular: Teoria Sobre Um Planeta Estranho, de Marco Antônio Pereira

Menção Honrosa: a Ester Amanda Schafe, de A Pedra, pela vigorosa interpretação e pelo talento promissor que revela.

Prêmio Aquisição Canal Brasil: Marie, de Leo Tabosa

 

O repórter viajou a convite da organização do festival.

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