A minissérie Justiça, da Rede Globo, termina na próxima sexta-feira (23), mas as quatro histórias independentes que se cruzam estão fechando seus ciclos a cada dia. Na segunda (19), vimos o desfecho trágico do enredo de Elisa (Debora Bloch) e Vicente (Jesuíta Barbosa). Mas o encerramento da storyline de Fátima agradou público e crítica, principalmente pela desenvoltura impecável de sua intérprete: Adriana Esteves.
É bem verdade que Justiça, como quase todas as obras de teledramaturgia brasileira, possui seus furos e/ou incoerências (deixemos isso para depois, por ora), mas a atuação de Adriana superou as expectativas. A humilde empregada doméstica pernambucana, que foi presa injustamente por sete anos, comoveu os telespectadores logo em sua estreia, sem precisar necessariamente do famigerado tema Hallelujah.
Na segunda semana, a saída de Fátima da prisão foi outro golpe emocional no público. Tentar reerguer sua vida sem o marido que morreu, descobrindo que seu filho Jesus (Tobias Carrieres) até então desaparecido, se torna um delinquente que lhe assalta sem a reconhecer como mãe, sua filha Mayara (Julia Dalavia) entrou para a prostituição, e ainda ter que lidar com o policial - Douglas (Enrique Diaz) - que lhe jogou na prisão como vizinho, exigiu forças que nem a personagem mesmo sabia que tinha. Coincidindo, então, com muitas Fátimas batalhadoras que conhecemos na vida real.
Nos episódios 3 e 4, conhecemos mais a Fátima amiga e, mais uma vez, o lado mãe feroz, que enfrenta tudo e todos para proteger os seus rebentos. A cena do acerto de contas entre ela e Kellen (Leandra Leal) por ter agredido sua filha desestruturou a jovem cafetina, e o público vibrou no sofá de casa. Mas nem tudo foi tragédia no calvário da doméstica. A aproximação dela com o músico Firmino (Julio Andrade) soou como respiro na minissérie carregada de amargura, com um romance "inocente" - dadas as devidas proporções - embalada pelo clássico de Geraldo Azevedo, Dona da Minha Cabeça, com direito ao sotaque pernambucano que deu mais vida ao casal.
No desfecho de sua história, a torcida dos telespectadores era unânime: todos queriam um final feliz para a guerreira Fátima. E a autora Manoela Dias assim o fez, mas o caminho para o happy end também não foi fácil. Ao decidir enfrentar o policial que a extorquia com suas quentinhas, frutos de seu árduo trabalho, o público se viu desesperado com a possibilidade de dar tudo errado. Mas o susto, felizmente, foi só um (grande) susto. A cena final de Fátima foi emblemática: um pedido de casamento de seu amado e bondoso Firmino ao som de Amor Perfeito numa festa na casa da empregada, com a família junta novamente, sem qualquer mágoa. O verso do refrão foi repetido à exaustão pelo elenco e figurantes em cena, como que para assinalar a lição deste enredo: "Já não importa quem errou / O que passou, passou".
O arco das terças-feiras da minissérie pode ser considerada a melhor história da trama. Principalmente, porque Fátima fez justiça ao talento de Adriana Esteves. Um papel digno de quem conquistou o público com a maldosa-porém-querida Carminha, de Avenida Brasil. Se a tivesse poupado de viver a duvidosa Inês da duvidosa novela Babilônia, poderíamos dizer que Fátima foi a melhor forma de desvencilhar da grande vilã com uma mocinha convencente que despertou a torcida do público, algo raro para as heróinas de hoje em dia.
Além de Adriana, todos os coadjuvantes da história desempenharam muito bem a sua função. No núcleo de Fátima, o segundo destaque vai imediatamente para a cafetina Kellen, de Leandra Leal. A atriz se apropriou da personagem e, inclusive, das expressões pernambucanas, soando como uma recifense nata, sem exageros e caricatura. Neste último episódio, até a personagem de apoio Irene (Clarissa Pinheiro) conseguiu roubar a cena. E o policial Douglas, que o público tinha dúvidas se gostava ou não, acabou se tornando um pastelão que perdoou a infidelidade de sua Kellen. O núcleo de terça-feira de Justiça, enfim, sai de cena deixando saudades.