Vinte capítulos depois, Justiça encerra seu ciclo na noite desta sexta-feira (23) na Rede Globo. A minissérie escrita por Manuela Dias, que teve a cidade do Recife como pano de fundo para quatro personagens centrais que cometeram (ou não) crimes explorou, das mais diversas formas, a discussão que o título da trama sugere por si só.
Por falar em Recife, Justiça despertou uma discussão sobre que cidade era essa que a fotografia de Walter Carvalho e a direção de José Luiz Villamarim quis mostrar para os telespectadores. A capital pernambucana, que sempre aparece ensolarada e animada pelo carnaval nas propagandas turísticas, foi apresentada por outro viés: mais frio, sombrio, irreconhecível até. Mas a Veneza Brasileira parece, realmente, ter caído com uma luva para o enredo fictício. (Ignorando detalhes minuciosos de que descer na Praça da República nunca dará na Praia do Pina ou a existência de uma estranha linha de ônibus Boa Viagem/Pina que não passa pela orla. Afinal, é uma obra “sem nenhum compromisso com a realidade”, como diz os créditos finais).
As histórias protagonizadas por Vicente (Jesuíta Barbosa), Fátima (Adriana Esteves), Rose (Jéssica Ellen) – ou seria Débora (Luisa Arraes)? – e Maurício (Cauã Reymond) conseguiram prender a atenção do público na televisão e, claro, nas redes sociais quatro vezes por semana no horário das 22h30.
Os desfechos de Justiça são bastante discutíveis. O enredo de Debora Bloch nas segundas-feiras terminou de uma forma duvidosa, mesmo com a dura lição de que vingança pelas próprias mãos pode gerar algo cíclico e, algumas vezes, doentio. Em contrapartida, o final feliz da empregada Fátima, com vida e família reestruturadas após sete anos de sofrimento não poderia ser mais coerente, devido à grande torcida que a mocinha despertou dos telespectadores nas redes sociais e, claro, a impecável atuação de Adriana Esteves nas terças-feiras.
A conclusão da história de Rose anteontem trouxe um furo da narrativa: a personagem Débora (Luisa Arraes) cresceu demais, a ponto de ofuscar e roubar a cena em seu último episódio. A atriz, de pais pernambucanos, surpreendeu no último instante, com uma cena tensa e forte com o estuprador Oswaldo (Pedro Wagner). Já o fim do ciclo de Maurício (Cauã Reymond) não foi tão representativo. O último episódio serviu mais para amarrar as arestas deixadas pelos outros três capítulos antes, salvo por um susto com o protagonista de sexta e um pequeno e interessante link com o enredo do dia anterior.
Apesar de defeitos, pois nada na teledramaturgia brasileira é perfeita, Justiça sai de cena com a sensação de dever cumprido. Com boas atuações, grande repercussão e histórias instigantes, a minissérie inovou na maneira de contar histórias aparentemente diferentes num mesmo espaço. Não ouvir mais Hallelujah no horário das onze da Globo daqui pra frente, vai sim, fazer falta.