AVISO DE SPOILER: O texto a abaixo tem informações sobre o episódio Beyond the Wall.
A missão liderada por Jon Snow em Beyond the Wall, episódio da série Game of Thrones exibido domingo (20/8) pela HBO, tinha vários elementos interessantes a serem explorados. Um pequeno grupo de personagens relevantes unidos pela necessidade, e não por afinidades, seguiu para além da Muralha com a tarefa de capturar um morto-vivo para levá-lo como prova da existência dos Caminhantes Brancos para Cersei Lannister, como parte de um plano para negociar uma trégua na Guerra dos Tronos. A missão deles era algo que significava, obviamente, uma perigosa proximidade com o exército do Rei da Noite. O modo como o episódio foi conduzido, no entanto, dividiu opiniões. Teve gente que amou, mas parte do público teme até que a série fique presa ao “fan service” ou perca a atenção aos detalhes que a fez famosa.
Game of Thrones já mostrou como consegue oferecer sequências de batalha memoráveis. Não pela pirotecnia, ou por demonstrações de potência dos exércitos, como fazem alguns filmes de guerra, mas por explorar sensações diferentes com a presença de personagens relevantes no front, inclusive com aqueles que são mais conhecidos pelo público.
Em Blackwater, havia a aflição do cerco, com Cersei Lannister falando para as outras mulheres o que ocorreria caso o exército rival chegasse até elas. Em Hardhome, o público acompanhou o desespero do vilarejo pego de surpresa, tendo que fechar os portões para uma parte da população e sem tempo para organizar a defesa. Na Batalha dos Bastardos, havia a angústia de ver o exército minoritário sendo esmagado pelos oponentes.
Tudo bem, à exceção de Hardhome, reforços chegaram no finalzinho de Blackwater e da Batalha dos Bastardos e mudaram o que segundos antes parecia ser o desfecho da história. Mas, tendo esses episódios como exemplo, fica a impressão de que em Beyond the Wall poderiam ter jogado mais com os sentimentos e a expectativa do público. Algo que ficou sugerido, por exemplo, com o ataque do “urso” em pleno nevoeiro e pelas conversas dos personagens a caminho do local onde encontraram os caminhantes brancos.
No entanto, diante de tantas qualidades da série, parte do público estranha certas escolhas e questiona o que acredita que sejam pontas soltas na história. Vale dizer que esses apontamentos não significam que outros aspectos não são marcantes ou bem cuidados. A circulação de tais comentários pela internet pode ser vista também como reflexo do tipo de público da série, já que muitos fãs ficam atentos aos mínimos detalhes e gostam de debater sobre o desenrolar da trama.
O grupo de Jon ficou cercado, com o exército do Rei da Noite esperando a camada de gelo endurecer para poder passar. Mas não havia escudos ou uma pedra que os protegesse de um ataque à distância. Se Sandor Clegane conseguia acertar uma pedra em um dos mortos-vivos, o que os impedia de lançar algo de volta por ordem do Rei da Noite?
Podemos imaginar que talvez o líder estivesse à espera do resgate para fazer um ataque maior, ciente da importância de Jon (não sabemos ao certo quais os poderes e o conhecimento do personagem), mas então porque ele não teria insistido no ataque quando Daenerys chegou? Um dragão foi acertado com uma lança a uma distância enorme, porque não houve um ataque semelhante a Drogon, que parecia tão exposto no campo de batalha? Foram questionamentos feitos por alguns.
Quando Jon sai da água e parece que vai atacar alguém é salvo por Benjen Stark. Um embate direto de Jon com um caminhante branco, como o que ocorreu em Hardhome, fica na expectativa. Não seria algo impossível na série que o "Uncle Benjen" estivesse por ali, mas o personagem já tinha feito uma aparição surpresa para salvar Bran Stark e Meera Reed num episódio anterior. Seria legal vê-lo, por exemplo, interagindo com o grupo de Jon um pouco antes, talvez como o responsável pela confirmação de que o exército estava em determinando local, ajudando na batalha como parte do time ou oferecendo alguma informação importante, já que deve ter visto muita coisa em suas andanças.
Outros elementos narrativos já utilizados na série também poderiam ter sido resgatados no episódio de domingo para tornar algumas coisas mais coesas, ou explícitas. Alguém poderia “wargar” em um corvo para acelerar o pedido de ajuda ou uma pessoa dos povos livres, mais conhecedora do terreno, poderia correr no lugar de Gendry por um atalho para chegar à Muralha. A distância percorrida para os personagens e o tempo das ações deixou algumas pessoas confusas.
O próprio efeito do frio no período em que eles esperaram cercados pelos inimigos poderia dar uma profundidade emocional maior à cena, ressaltando o estado de espírito de homens comuns à beira de enfrentar um exército sobrenatural e mais numeroso que o grupo deles (lembra-se dos momentos que antecederam a Batalha dos Bastardos?).
No tempo de espera poderiam ser inseridos diálogos com o humor mordaz de alguns integrantes daquele grupo. Também seria um momento para explorar as dúvidas, os medos que surgem nas mentes dos personagens. Conversas como essas acabaram ficando concentradas na sequência da caminhada, a exemplo do momento em que Jon e Beric falam sobre terem retornado à vida sem compreender os planos do Deus Vermelho ou quando esse último fala ao Rei do Norte sobre a morte ser o primeiro e o último inimigo.
Por outro lado, Beyond The Wall revelou informações como o fato de que, ao matar um caminhante branco, os mortos-vivos criados por ele também são atingidos (algo citado duas vezes ao longo do episódio). Além disso, o Rei da Noite agora tem um dragão a seu serviço. As duas coisas podem mexer bastante em cenas futuras.