Maeve Jinkings quer viver a arte até o último suspiro

Atriz que mora no Recife fará parte da supersérie da Globo, 'Onde Nascem os Fortes'

Foto: TV Globo/Divulgação
Atriz que mora no Recife fará parte da supersérie da Globo, 'Onde Nascem os Fortes' - FOTO: Foto: TV Globo/Divulgação

Uma das atrizes favoritas do cinema pernambucano, Maeve Jinkings estreia nesta segunda-feira (23) na nova supersérie da Globo, Onde Nascem os Fortes - escrita pelo conterrâneo George Moura em parceria com Sergio Goldenberg - no papel de Joana.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, a artista conta que interpretará na trama, com direção artística de José Luiz Villamarim, uma personagem com imenso "capital erótico".

ENTREVISTA // MAEVE JINKINGS

JORNAL DO COMMERCIO - Você nasceu em Brasília, passou parte de sua infância no Pará, depois se mudou para São Paulo e, atualmente, mora aqui no Recife. Podemos dizer que Maeve é uma pessoa aberta a constantes transformações?
MAEVE JINKINGS - Tenho muito interesse pelo mundo, pelas pessoas, diferenças culturais, isso me fascina. Me ensina a viver. Talvez por isso seja atriz, pra poder mergulhar nos outros e aprender além de mim.

JC - Diante de tantos trabalhos fortes no cinema, em que momento você sentiu vontade de atuar na televisão?
MAEVE - Tinha aquele desejo infantil. Quando você cresce num país com uma cultura tão forte de teledramaturgia, naturalmente há esse fascínio. Mas a medida que fui crescendo, o teatro e o cinema foram ganhando espaço em mim, ao ponto em que mais tarde a TV teve que reconquistar meu interesse. Hoje a TV vive um momento de transformação, buscando novas formas narrativas, dialogando com series, se adaptando a novas plataformas. Isso tudo me interessa e me deixa muito curiosa sobre que tipo de mudanças estão por vir.

JC - Entre teatro, cinema e TV, é possível definir em qual plataforma você se encontra mais?
MAEVE - Pra mim o que interessa é o recheio, é a voz que está dentro do projeto. O conteúdo, seja ele bom ou ruim, pode estar em qualquer plataforma. Quero flutuar entre as formas, oxigenar uma através da outra, isso me parece interessante. Hoje morta de saudade do teatro, preciso voltar. Mas só farei isso quando tiver algo que faça sentido pra mim.

JC - Seus trabalhos no cinema pernambucano também são marcantes. Como você enxerga a potência dessa cena para o cinema nacional e mundial?
MAEVE - É importante porque traz outras formas de falar da experiência de ser quem somos, outras perspectivas do que significa viver nesse pais tão grande. O fato de estar mais distante da indústria também deixa a narrativa menos viciada, e ao mesmo tempo essa geração de realizadores é super antenada com o mundo.

JC - Seu personagem Domingas n'A Regra do Jogo (2015) tanto te apresentou na televisão como provocou um grande debate sobre violência doméstica. O que este trabalho te acrescentou tanto como atriz quanto como mulher?
MAEVE - Tecnicamente foi um desafio enorme porque eram cenas muito dramáticas, era fácil cair em estereótipos. Pessoalmente, me permitiu repensar o que entendia como uma "mulher forte", e como eu exigia tanto essa força de mim mesma que terminava por desprezar a fragilidade e submissão de outras mulheres. Domingas me ajudou a entender como se leva uma mulher a esse estado de submissão, é uma construção. Acho que Domingas me deixou mais generosa com essa condição.

JC - Você está prestes a estrear como Joana na supersérie Onde Nascem os Fortes. O que este personagem traz de novo à você enquanto profissional?
MAEVE - Joana traz algo que me interessa muito explorar como mulher hoje, em tempos tão conservadores, que é um certo capital erótico. Se fosse uma narrativa televisiva mais moralista essa personagem provavelmente caminharia apenas num espectro de vilania, mas em Onde Nascem Os Fortes complexifica-se essa mulher, há interesse em sua subjetividade, em sua pulsão de vida e morte. Essa alias é uma marca do George e do Villa trabalhando juntos, falar do que nos arrebata. Como intérprete, também me parece interessante debater isso depois de ter feito uma personagem tão recatada como era Domingas, em A Regra do Jogo.

JC - Onde Nascem Os Fortes se passa na cidade fictícia de Sertão, que retrata de certa forma muitos lugares do Nordeste e do Brasil onde homens, em sua maioria, são intolerantes e machistas. Nos dias atuais, de onde nasce a força para ser mulher para encarar a realidade?
MAEVE - Quando falamos de machismo, estamos falando de padrões de comportamento que aprisionam mulheres e também homens. Em mim a força nasce da necessidade de romper essas correntes, que são as expectativas de comportamentos padrão. A pulsão de libertação pode ser proporcional à opressão, quanto mais tentam me enquadrar, maior minha força de reação.

JC - Além da questão de assédio levantada pelas mulheres do cinema nos últimos tempos, muitas também defendem a bandeira de uma remuneração mais igualitária para as atrizes. Você percebe essa disparidade aqui no País?
MAEVE - Sabemos que nossos salários são proporcionais ao nível de desenvolvimento profissional, que por sua vez está ligado às chances de aprendizado através de bons trabalhos. Sei o quanto aprendi trabalhando, e as estatísticas provam que atores têm muito mais chances de encontrar personagens relevantes e complexos do que uma atriz. Então isso cria uma certa naturalização dessa disparidade, entende? O produtor vai achar natural pagar mais ao homem porque afinal de contas ele teve um currículo superior ao da mulher.

JC - Até onde Maeve Jinkings quer chegar com sua arte?
MAEVE - Até meu ultimo suspiro.

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