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Jorge Amado segundo a crítica literária

Depois de ser ignorado pelas academias, o escritor agora começa a ser avaliado com mais justiça

Diogo Guedes
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Publicado em 04/08/2012 às 6:21
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Depois de ser ignorado pelas academias, o escritor agora começa a ser avaliado com mais justiça - FOTO: Divulgação
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Apesar do prestígio com o público, Jorge Amado foi por muito tempo ignorado pela crítica literária e pela academia. O panorama vem mudando um pouco, ao menos nas análises que observam o protagonismo dos negros e da mulheres na obra do escritor baiano. “Jorge Amado escolheu ficar longe do cânone literário. Ele queria ser canonizado pelo povo. E foi”, define o pesquisador Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Para ele, Jorge foi pouco analisado pela crítica porque as academias têm uma formação completamente modernista. “Eles criaram, então, uma certa resistência a uma literatura popular como a dele, que é herança das narrativas do século 19, do romantismo, e que dialoga com o público”, argumenta. Para explicar a opção do autor baiano, ele se usa de uma analogia de Walter Benjamin. O pensador alemão dizia que, em tempos de radicalizações políticas, a principal dúvida de um artista era saber escolher entre inovação estética e falar para as massas. “Para ele, a dúvida era entre a vanguarda de Picasso ou o cinema popular de Chaplin. Jorge claramente fez a opção por Chaplin, por emocionar as massas”, explica Eduardo de Assis.

Para Anco Márcio Tenório Vieira, professor do Programa de Pós-Graduação de Letras da UFPE, foram quase inexistentes as tentativas de compreender a obra de Jorge Amado na academia. As restrições, segundo ele, foram tanto ideológicas, depois que ele abandonou o PCB, como temáticas: na sua segunda fase, iniciada com Gabriela, cravo e canela, ele mostra uma “espécie de dualidade entre o País oficial — ou o País almejado pelas esquerdas: moderno, europeizado, que superasse todos os seus ‘arcaísmos’ — e o País real: da miscigenação, da interpenetração cultural, do sincretismo religioso, da sensualidade a flor da pele”.

Ainda para o professor, a crítica não entendeu a abordagem do campo sexual do autor. “É neste ponto que Amado mais transige. Ou seja, é onde as tensões sociais e econômicas são amainadas, embaralhadas, parecem perder força. É onde Eros vence o Logos. Neste ponto a obra de Amado lembra muito a de Nelson Rodrigues: a dualidade entre a moral da casa, aquela que é a da aparência, e a moral da rua, a das pulsões sexuais”, comenta.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio deste sábado (4/7)

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