Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura, morre aos 87 anos

Homem de esquerda, polêmico, que nunca deixou de confrontar o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX
Do JC Online
Publicado em 13/04/2015 às 8:08
Homem de esquerda, polêmico, que nunca deixou de confrontar o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX Foto: Foto: AFP


Atualizada às 09h12

O alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura, principal figura da literatura contemporânea de seu país e autor do clássico "O Tambor", faleceu nesta segunda-feira aos 87 anos, anunciou sua editora.

"O Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass faleceu nesta manhã aos 87 anos de idade em uma clínica de Lübeck, norte da Alemanha", informou a editora Steidl no Twitter. O site da editora publicou várias fotografias em preto e branco do escritor com sua imagem "clássica": bigode espesso, óculos sobre o nariz e o inseparável cachimbo.

Homem de esquerda, polêmico, que nunca deixou de confrontar o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX. O porta-voz do ministério das Relações Exteriores afirmou em uma entrevista coletiva que as autoridades alemãs estão "profundamente afetadas" com a notícia "trágica".

O escritor britânico Salman Rushdie expressou no Twitter sua "tristeza". Era "um verdadeiro gigante, um inspirador, um amigo".  "Toca o tambor por ele, pequeno Oskar", escreveu, em referência ao herói de "O Tambor", um sucesso mundial que foi adaptado para o cinema por Volker Schloendorff e premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme em língua estrangeira.

Quando a obra foi publicada, em 1959, a revista Der Spiegel escreveu: "Deu origem, em um livro, à literatura alemã do pós-guerra". 

"Sem as intervenções incessantes de Grass no debate público, a Alemanha seria outra Alemanha", completou a publicação.

Entre suas obras, escritas em uma linguagem exuberante, mas precisa, repletas de fantasia e de ironia, estão "A Ratazana", "Passo de Caranguejo", "Meu Século" e "Um Campo Vasto".

Gunter Grass nasceu em 16 de outubro de 1927 em Dantzig, que mudou de nome para Gdansk, na atual Polônia. Ele era filho de uma mãe que pertencia à minoria eslava da Prússia e de um pai alemão.

Viveu uma "juventude alemã modelo" para sua geração. Alistado aos 11 anos na Juventude Hitlerista, antes de combater na Segunda Guerra Mundial, foi feito prisioneiro pelos americanos ao final do conflito e libertado em 1946.

A partir de então teve uma vida boêmia, estudou Artes Plásticas, esculpiu, pintou e deu os primeiros passos na poesia. Nos anos 1950 se decidiu pela carreira de escritor e se uniu ao "Grupo 47", que tinha por objetivo revitalizar a literatura alemã.

Entre seus compromissos de maior destaque nos últimos anos estavam as campanhas a favor da coalizão "vermelho-verde" que unia os social-democratas do então chanceler Gerhard Schroeder aos ecologistas ou contra a guerra do presidente americano George W. Bush no Iraque.

Em 2006, Grass revelou em "Nas Peles da Cebola", uma obra que é parte de suas memórias, que integrou na juventude as Waffen SS, uma unidade de elite do regime nazista de Adolf Hitler. A confissão provocou um terremoto no país.

O escritor, que teve quatro filhos, também provocou uma grande polêmica em 2012 ao publicar na imprensa alemã um poema no qual criticava Israel e acusava o país de "ameaçar a paz mundial". Israel o declarou persona non grata.

Em 2014, após várias internações, Grass afirmou em uma entrevista que provavelmente não escreveria mais romances por sua idade avançada.

"Meu estado de saúde não me permite conceber projetos de cinco ou seis anos, e esta seria a condição para o trabalho de pesquisa para um romance", disse a um jornal regional. Um livro de condolências será aberto na casa de Grass, em Lübeck, onde morava nos últimos anos.

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