Marcelo Rubens Paiva narra a história de sua mãe em novo livro

Ainda Estou Aqui, um dos títulos na lista de mais vendidos, resgata a trajetória de Eunice Paiva, que lutou contra a ditadura e presenciou momentos políticos importantes
Allan Nascimento
Publicado em 05/09/2015 às 10:35
Ainda Estou Aqui, um dos títulos na lista de mais vendidos, resgata a trajetória de Eunice Paiva, que lutou contra a ditadura e presenciou momentos políticos importantes Foto: Renato Parada/Divulgação


Um dos sintomas mais marcantes, e também um dos primeiros a surgir, da doença de Alzheimer é a perda da memória recente. Aos poucos, com o avanço do quadro clínico, as recordações mais antigas, aparentemente, embaralham-se na mente dos pacientes, que vão perdendo a noção de tempo e lugar, chegam a não reconhecer parentes e amigos próximos, passando a não construir, em sua rotina, novas lembranças. É como se vivessem em uma realidade à parte, mas criando, em alguns momentos, pontes com seu ambiente de convívio. Resgatando suas próprias recordações da história de sua mãe, o escritor Marcelo Rubens Paiva repassa a vida da advogada Eunice Paiva, diagnosticada com a doença, em Ainda Estou Aqui (Alfaguara, 296 páginas, R$ 39,90) – livro em que, depois de 33 anos do lançamento de Feliz Ano Velho, retoma o tom autobiográfico em uma publicação.

Minha mãe montou um quarto com uma cama de viúva.Trancava-se todas as noites para acender velas e chorar. Nunca a vimos chorando. Trancava-se e preferia sofrer sozinha. À luz de velas.

trecho de Ainda Estou Aqui

Ao JC, em uma entrevista por telefone, Marcelo se preocupa em explicar que o novo título não é uma continuação da obra que lhe deu projeção no início da década de 1980, e, sim, a biografia de uma personagem que presenciou episódios marcantes da história política brasileira. “Eu entro como um narrador, como um personagem atuante. Claro que eu conto a minha história ali, mas sempre relacionando com a vida da minha mãe”, conta.

A trajetória narrada em Ainda Estou Aqui tem início, no livro, em 2008, quando uma decisão judicial inverteu a organização até então existente na relação entre Marcelo e Eunice. “Naquela tarde abafada, na forma da lei no Foro Central Cível (...), aquela que cuidou de mim por quarenta e oito anos seria cuidada por mim. O referido é verdade e dou fé. Eu virava mãe da minha mãe”, relata ele na obra. A partir desse ponto, sem se prender a uma ordem cronológica, são enumerados os momentos que marcam a estrada da esposa do deputado Rubens Paiva – este, para relembrar, um personagem que teve o mandato cassado em 1964 e que sete anos depois virou mais uma vítima da ditadura: foi torturado e, em seguida, morto – circunstância que levaria a família, durante um tempo, a viver em Santos, no litoral paulista.

“Minha mãe é um arquivo que está se apagando, é uma memória de 50 anos de luta, que precisa ser registrada”, justifica o jornalista e escritor sobre a decisão de narrar esse percurso. “Eu decidi escrever focando nessa mulher que viveu todos os períodos da ditadura e da redemocratização, em um momento em que tem gente nas ruas pedindo a volta do regime militar. É uma forma de contar o que foi a ditadura para as pessoas que não sabem.”

Leia a matéria completa na edição deste sábado (5/9) do Caderno C, no Jornal do Commercio

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