Marcelo Peixoto lança livro de contos 'Cemitério Canários'

O escritor e documentarista traz uma linguagem singular no seu livro, que termina um silêncio de mais de 40 anos
JC Online
Publicado em 14/06/2017 às 7:11
O escritor e documentarista traz uma linguagem singular no seu livro, que termina um silêncio de mais de 40 anos Foto: Divulgação


O escritor e documentarista pernambucano Marcelo Peixoto garante: se tirarmos a mentira da realidade, ela se torna ficção. Há mais de 40 anos sem publicar, desde Ai Quem Me Dera Beijar os Lábios de Dorothy Lamour, em 1970, o autor retorna ao universo da literatura com um volume de contos, o Cemitério Canários (Cepe Editora). É um livro singular, cuidadosamente telegráfico e estranho, que rejeita as preposições e artigos na sua escrita.

O autor lança a coletânea, nesta quarta (13), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco. É um retorno, ele conta, a uma atividade que nunca abandonou. “Eu nunca deixei de escrever, eu sempre escrevi, desde a infância”, conta. “Acredito que a gente nasce poeta. Eu sofri muito bullying porque fui poeta desde cedo, na infância.”

A primeira publicação de Marcelo foi nas páginas do antigo Suplemento Literário do Jornal do Commercio. Depois, lançou o livro de poesia Pastor da Solidão e o já citado volume de contos, que circulou pelas Edições Pirata. A partir de então, explica, deixou de publicar, mas não de escrever, mesmo quando atuava como documentarista para a Massangana Multimídia, da Fundação Joaquim Nabuco.

Hoje radicado no Rio de Janeiro, Marcelo foi construindo os contos a partir de histórias que viu e ouviu, notícias de jornal, frases que ressoavam na cabeça. Foi o caso de “Quantas vodcas são necessárias para se amortecer uma queda?”, que está no conto Outra Margem Porta, que passou três dias o acompanhando em suas caminhadas pela cidade carioca. “Sou neurótico compulsivo, acho que ser compulsivo é algo do artista, se não consegue fazer uma obra – é só ver um Brennand, por exemplo”, comenta.

LINGUAGEM

Junto com essas tramas, Cemitério Canários traz uma linguagem feita de palavras muitos sólidas, que desprezam conectivos. “Havia tomado decisão – ignorava maneira proceder – jamais repetiu fracassos”, começa, por exemplo, o conto Palavras sobre Papel. “Eu trouxe a busca pela palavra exata que eu tenho na poesia para o conto. Brinco que agora a minha dislexia chegou ao nível máximo”, conta o escritor. Na escrita e reescrita do livro, Marcelo ia mandando os contos para Raimundo Carrero, que elogia na apresentação da obra a “experiência de linguagem” do autor. “Eu fui procurando frase por frase e contando termos e repetições para chegar nesse formato”, comenta o autor.

Afora Cemitério Canários, Marcelo Peixoto tem um outro livro pronto, com contos gays. Não quis lançar a obra primeira porque não queria que dissesse que voltou para “fazer tererê”. “Eu não me proponho a ser um contista de narrativas gays. Posso fazer um livro de contos gays, mas não faço só isso”, aponta. Outro projeto é um livro de fotografias, intitulado Lugares Ocultos. “Enquanto você tem projetos aqui, você continua, pode pedir a Deus para terminar tal livro ou algo assim”, conclui o escritor.
l Lançamento de Cemitérios Canários – hoje, às 19h, no Museu do Estado (Av. Rui Barbosa, 960, Graças). Preço do livro: R$ 30.

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