Louvar os lançamentos literários dos famosos youtubers ou ater-se aos clássicos? Ler em formato digital ou exclusivamente em livros físicos? Comprar os novos livros na loja ou no site? Eis algumas das questões contemporâneas do mercado editorial com as quais os leitores assíduos são confrontados no dia a dia. Os números das pesquisas de órgãos atrelados ao mundo da leitura muito dizem sobre os hábitos dos brasileiros e desmistificam algumas ideias pré-concebidas, como por exemplo o embate leitura impressa versus digital.
O Sindicato Nacional dos Editores de Livros, SNEL, em parceria com a Nielsen, apresenta mensalmente o volume de livros vendidos nas livrarias do País. Os números do mês de agosto apontaram para um crescimento de 4, 46% em livros vendidos em relação ao mesmo período em 2016. Visto de uma maneira mais abrangente, este valor pode parecer pequeno, mas para um setor que se encontrava até o ano passado em queda – o IBGE apontou uma diminuição de 16,1% no varejo de livros em 2016 - as porcentagens de 2017 vem se revelando bastante otimistas.
Em contrapartida, a média de livros lidos por ano pelo brasileiro ainda é baixa: menos que 5 e, destes, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria, sendo que 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes, como revelou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil há cerca de um ano. A juventude (enquadrada na faixa etária entre 16 e 24 anos) representa 20% do público consumidor de uma grande rede de livrarias como a Saraiva, por exemplo, de acordo com o vice-presidente, Marcelo Ubríaco. "Acho que existem vários fatores que influenciam isso, como a própria mudança do que se entende por cultura", disse ao Jornal do Commercio, durante o primeiro fim de semana da 18° Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que segue até domingo.
"As próprias redes sociais, que competem de certa forma com o livro, fazem as pessoas interagir, escrever, falar. Então de alguma forma você está estimulando a leitura", afirma. Da popularização das redes sociais adveio o aumento no número de youtubers, blogueiros da plataforma de vídeo Youtube. Alguns deles, como os mais famosos Felipe Neto, Kéfera e Maju Trindade estiveram inclusive presentes na Bienal, levando centenas de fãs a fazer imensas filas para conseguir um autógrafo.
"Esses novos escritores que vêm desse mundo do digital trazem essa geração de jovens de alguma forma para o mundo da literatura. O adolescente entra por esse caminho, no intuito de interagir com o youtuber, aqui ou nos eventos das lojas e a quantidade de livros que esse youtuber vende é muito grande. O importante é estimular o hábito", acredita o executivo.
Parcela ainda pequena do mercado editorial brasileiro, o livro digital vem, entretanto, crescendo de maneira orgânica. Recentemente, os resultados do Censo do Livro Digital de 2017, revelaram que 37% das editoras brasileiras produzem e comercializam e-books. O digital pode também ser entendido não apenas a partir das questões relacionadas aos e-books e e-readers, mas também das compras online.
Para Marcelo Ubríaco, as diferentes experiências de compra de livros estão integradas. “Hoje, 20% das compras realizadas pelo site são retiradas em loja pelo cliente. São relações diferentes que o leitor cria. Na loja, as pessoas ficam mais tempo, folheiam os livros, vão com os amigos[/TEXTO]. Não dá para dizer que quem compra pelo site tem um determinado perfil, e quem compra na loja tem outro, porque o cliente utiliza os canais de acordo com suas necessidades”, afirma.
São muitas as críticas tecidas em relação à falta de incentivo por parte do poder público ao campo literário. Localmente falando, por exemplo, não existe ume edital público único para projetos literários como acontece com o cinema e a música. Em sua edição 2015/2016, o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, Funcultura, aprovou 23 projetos da área literária, incluindo os de formação e pesquisa, contra 35 de música e 102 de audiovisual. Entretanto, Ubríaco acredita que o principal é perceber a boa intenção e que a jornada é longa.
"Tudo que possui um acesso mais fácil e que é possível trabalhar o coletivo, é mais simples de multiplicar. Por exemplo, um filme passando numa sala de cinema reúne cerca de 100 pessoas, um festival de música junta milhares, mas o livro ainda é quase sempre uma experiência individual", analisa. "A mobilização é diferente, então as estratégias têm que ser distintas. Mas ao mesmo tempo quando a gente está num evento com esse, da Bienal, vemos que o livro consegue reunir um público imenso." O desafio, para ele, é conseguir que a relação com a leitura se torne menos funcional, seja nas escolas, ou nas livrarias, de maneira coletiva ou individual.