Um encontro raro, pelo menos em público, no Recife de dois paraibanos, de Campina Grande, que se enfrentam num desafio poético: o romancista, teatrólogo, poeta e compositor Bráulio Tavares e o poeta, escritor, compositor e humorista Jessier Quirino. A dupla lança hoje, na Passa Disco (Rua da Hora, 345), o livro Galos de Campina (Bagaço). Uma obra feita a seis mãos. Duas delas do cordelista paraibano (de Nova Floresta), Kydelmir Dantas, que se assina Antôi Dedé, o idealizador do livro, uma junção de dois trabalhos distintos de Jessier e Bráulio, produzidos em épocas diferentes, mas remontados como se os versos fossem uma peleja de repentistas. O que não deixa de ser, mas por repentistas de gabinete.
No livro Sai do Meio que lá Vem o Filósofo, de 1982, tem o poema Trupizupe o Raio da Silibrina (“raio da silibrina” é um equivalente a “o cão chupando manga”). 14 anos mais tarde o conterrâneo Jessier Quirino, em seu livro de estreia, Paisagem de Interior (também da Bagaço), incluiu o poema Meu Nome É RasgaRabo O Bagunçador de Bagunça. Em 2001, Jessier gravaria o poema, voz e violão, no disco Paisagem de Interior I e II (Bagaço). Para deixar a costura sem marcas, Antôi Dedé pediu que os Bráulio e Jessier acrescentassem mais duas estrofes (Dedé assina o prefácio e fecha o desafio com versos seus).
Os dois, incorporados num cantador de viola, se esmeram na arte da “pabulagem” um dos mais antigo temas do repente, um bom exemplo está numa peleja entre o potiguar Manoel Cabeceira (nascido em 1845), com Manoel Caetano: “Eu passo fogo nas onças/ derrubo o maracajá/ chamusco os inchú a faixo/ e queimo o arapuá/ deixo o pau limpo indefeso/pra você nele trepá” (Manoel Cabeceira). “Saiba senhor Cabeceira/ que eu vinha em sua batida/ como caetetú por loca/ e mosquito por ferida/ você caiu-me nas unhas/ vae encontrar grande lida”. Bráulio Tavares e Jessier Quirino levam o desafio para este terreno:
“Pra cantar desafio eu tou sozinho/ pois não vejo poeta à minha altura/ eu não acho ninguém com estatura, pra poder me seguir neste caminho... (Bráulio Tavares). “Trupizupe, olha tu não me me assusta/ com a fama da tua valentia/ porque esta macheza é freguesia/ e até nem me parece tão robusta/ uma boa palma não me custa/ pois no fundo te acho delicado...” (Jessier Quirino)
O novo Galos de Campina que terá noite de autógrafos na Passa Disco é uma reedição em fac-siímile, com capa da artista plástica paraibana Minna Miná (autora do projeto gráfico), foi lançado em 2008, com uma capa ilustrada por uma caricatura dos dois poetas numa queda de braço.