Poético e crítico. Por vezes vago, por vezes milimetricamente preciso. Kleber Cavalcante Gomes tem 36 anos, uma voz mansa e duas décadas de experiência no rap. Quando tinha 11 anos viu um amigo rimar e fez o seu primeiro verso. Aos 13, subiu no palco montado no bairro de Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, onde nasceu e foi criado pelos pais cearenses, ao lado dos quatro irmãos. E faz rimas até hoje. Kleber é Criolo, músico que estourou na mídia e nas redes sociais. Com elogios rasgados dos críticos, ele é o novo queridinho da música popular brasileira. O sucesso de Criolo (antes Doido, agora, só Criolo) pode ser atribuído a diversos fatores, no entanto, não devemos afirmar que é repentino.
Há mais de duas décadas, Criolo é um respeitado MC entre a comunidade do rap paulista. Com Nó na orelha, segundo CD da carreira, lançado em abril de 2011, o seu trabalho se expandiu para novas sonoridades. “O meu berço é o rap, mas não existem fronteiras para a minha poesia”, afirmou o cantor em um dos seus vídeos. Com Não existe amor em SP, canção que entrou no disco por acaso, Criolo alcançou a marcar de 200 mil downloads em poucos meses. Na última quinta-feira, Caetano Veloso e o MC tocaram a música, no VMB, da MTV, premiação na qual, o músico foi agraciado com os prêmios de melhor música (Não existe amor em SP), melhor disco (Nó na orelha) e de artista revelação do ano.
“Um conjunto de coisas fez com que isso acontecesse. Acho que a internet ajudou, a possibilidade de disponibilizar o seu trabalho. O Nó na orelha é um disco feito sem pretensões, é o registro de canções que eu tinha há 12, 15 anos. Além disso, a quantidade de coisas que tem nele: bolero, samba, reggae. Alguém pode ter achado curioso e passou para os amigos (risos), e as coisas foram acontecendo”, contou o músico em conversa por telefone.
Nas composições, Criolo é urgente e audacioso. “Quando você é criança você não se preocupa com estética, você está fazendo aquilo pelo sentimento, pela necessidade de algo que você não sabe o que é”, analisa. Por ainda sentir essa necessidade, Criolo continua compondo: porque sofre, porque sente um dor que não consegue explicar verbalmente. No entanto, está expressa nas suas letras. “Eu não preciso de óculos pra enxergar/ O que acontece ao meu redor/ Eles dão o doce pra depois tomar/ Hoje vão ter o meu melhor”, diz na música Mariô, que faz referência a Roda viva, de Chico Buarque.
A indignação de Criolo e a sua dor vêm de casa. Quando era adolescente, o jovem convenceu a mãe, Maria Vilani, a concluir o ensino médio na mesma turma que ele. A ideia, inicialmente estranha para a família, acabou dando muito certo. Depois da graduação em pedagogia, D. Vilani fez pós-graduação em semiótica e filosofia. “Meus pais nunca se conformaram com qualquer ato de injustiça, eles são muito trabalhadores, são operários”, refletiu o músico.
Leia mais sobre Criolo no JC de hoje (23), no Caderno C