Artistas do transporte coletivo enfrentam desafios diários para divulgar suas criações

Músicos de rua, que escolheram os transporte coletivo como palco, comentam os prazeres e dificuldades do ofício nos ônibus e metrôs do Recife
Alef Pontes
Publicado em 10/05/2015 às 5:25
Músicos de rua, que escolheram os transporte coletivo como palco, comentam os prazeres e dificuldades do ofício nos ônibus e metrôs do Recife Foto: Guga Matos/JC Imagem


Congestionamentos, demora, calor, superlotação... e música. A combinação de novos sons em meio aos transtornos enfrentados por usuários de transporte coletivo pode deixar o caminho mais agradável, transformando barulho e caos, muitas vezes, em alívio. O desafio dos artistas de rua: afastar o estresse e, principalmente, fazer com que os passageiros ouçam e gostem da apresentação.

Desafio aceito por gente como a cantora Bárbara Fagundes e o percussionista Carlos Batata. Diariamente, eles enfrentam aperto e correria, ao lado de uma multidão de passageiros, para levar poesia e música às pessoas. O pontapé inicial para a atividade, quase sempre, surge da busca pelo sustento. Mas os músicos garantem que o maior prazer está em levar alento aos passageiros, usando a arte como veículo para a aproximação. 

“Recentemente, descobrimos esse dom maravilhoso de trazer a arte e a cultura popular brasileira, mostrando, diariamente, um pouquinho delas para as pessoas que estão ouvindo e têm seus aperreios e suas preocupações”, se apresenta Bárbara, que há um ano canta e toca um repertório composto por clássicos da MPB, de Alceu Valença a Roberto Carlos.

Bárbara, que começou a se apresentar nos ônibus e metrôs por sugestão de um amigo, em um momento de aperto, conta que os artistas dos transportes acabam cativando os passageiros. E esse passou a ser o foco do seu trabalho: “propagar a música popular brasileira e mostrar que a arte de rua tem suas essências, que ela consegue enfrentar qualquer barreira para ser exposta”.

“Quando entrei a primeira vez num ônibus para me apresentar, não conseguia tocar um ré menor de tanto nervosismo. Mas, quando percebi o feedback da galera e a energia positiva, pensei: meu irmão, é o que eu quero. E vou propagar isso”, releva a cantora, que se destaca com sua voz marcante.

O percussionista Carlos Batata, que a acompanha há cerca de seis meses, também viveu a apreensão da primeira vez: “No primeiro dia, fiquei um pouco nervoso, mas descobri que é isso o que eu quero realmente na minha vida. E aconselho: quem ainda tiver suas dúvidas sobre a arte de rua, pode meter a cara, porque tem espaço pra todo mundo”. 

O violinista Jessé de Paula foi inspiração para Bárbara

Com disposição e simpatia, os músicos de rua tentam mostrar que a atividade é também uma questão social. Entre sorrisos e lágrimas – e com alguns que não se agradam do som deles, vez ou outra – a dupla faz questão de pregar a gentileza e o respeito pelo próximo. 

“É você dar a oportunidade de conhecer e se relacionar com outras pessoas. Independente de sair com dinheiro ou não, a gente está fazendo uma mobilização de gentileza”, explica Bárbara, afirmando que é isso o que mais fortalece as pessoas. “O dinheiro é um mal necessário, a gente precisa dele pra poder viver, pagar contas e fazer obrigações. Mas a gente faz muito pelo amor e pela arte”, justifica.

Bárbara revela quem foi a sua inspiração: o violinista pernambucano Jessé de Paula, músico das ruas como ela, que morreu no início do ano ao ser atingido por um vagão de metrô. “Jessé foi um dos primeiros na arte de rua aqui no Recife, quem alavancou essa história das pessoas terem coragem pra sair e mostrar sua arte. Fico triste porque ele só foi valorizado depois de sua morte”, afirma. 

“Nós optamos por viver de música, é o que nós fazemos de melhor. Independente de onde tocamos – se no ônibus ou no metrô–, nós vamos levar a arte aonde a gente for. O céu é o limite, cara”, sonha Bárbara.

Confira apresentação do duo:

TAGS
Metrô do Recife Ônibus transporte coletivo Músicos de rua
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory