MORTE

Mesmo internado, Naná Vasconcelos produziu e deixa composições inéditas

O velório de Naná Vasconcelos vai ser na Assembleia Legislativa de Pernambuco, no bairro de Boa Vista, a partir das 14h

Da ABr
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Publicado em 09/03/2016 às 13:50
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O velório de Naná Vasconcelos vai ser na Assembleia Legislativa de Pernambuco, no bairro de Boa Vista, a partir das 14h - FOTO: Foto:Ricardo Labastier/JC Imagem
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Mesmo em seus últimos dias de vida no hospital, o percussionista Naná Vasconcelos não parou de trabalhar. Ele faleceu nesta quarta-feira (9) de manhã deixando várias composições para um novo álbum que planejava lançar neste ano. A revelação é da esposa do músico pernambucano, Patrícia Vasconcelos. “A gente está muito sofrido. Naná queria muito fazer mais. Ele quis deixar esse disco já pronto. Foi quase”, lamentou.

Segundo Patrícia – que também trabalhava como produtora de Naná -, o álbum está mais profundo e reflexivo, envolvendo mantras e cânticos budistas. Ela conta que o novo disco já tinha inclusive título: Budista afrobudista. “Fizeram uma matéria na Argentina com o título El budista afro de la percusión (O budista afro da percussão, em tradução livre). Ele achou tão bonito e disse: 'Patrícia, vou fazer uma música disso'”, recorda. A reportagem foi publicada em junho do ano passado no jornal La Nación, antes da descoberta do câncer de pulmão, em agosto.

Outra faixa que o artista compôs no hospital e chegou a gravar em um gravador se chama Amém amém. “Na roupa que ele usou no carnaval tinha essa frase em hebraico”, conta Patrícia que também comentou a última apresentação carnavalesca de Naná no Recife: “Ele fez tudo muito intenso, com amor. Todo mundo achou que ele não teria energia para fazer o carnaval, e ele conseguiu”. O percussionista pernambucano abriu a folia, na capital, comandando centenas de batuqueiros – como já fazia há 15 anos.

De acordo com Patrícia, dois maestros – Gil Jardim e Egberto Gismonti – foram até o hospital para compôr arranjos e colher ideias de Naná para músicas do novo álbum. “Em todos os momentos Naná suspirou vida. Estava dando um suplemento para ele. Ele usou o pote e a cama para batucar o jeito que queria o arranjo percussivo”, contou ela.

Naná estava internado desde o dia 29 de fevereiro. No dia anterior, se apresentou em Salvador, já fraco. “Ele tocou sentado, foi muito emocionante”, lembra Patrícia. De acordo com a esposa, já no aeroporto o músico se locomoveu com a ajuda de uma cadeira de rodas e dormiu pela última vez em casa, antes de ser levado ao hospital.

Com a piora do quadro de saúde, Naná Vasconcelos deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 5 de março. Data em que fez 17 anos de casado com Patrícia Vasconcelos. Ontem (8) o percussionista saiu da UTI, mas por escolha. “Nós pedimos para dar um tratamento mais humanitário a ele, em um quarto, mas com os cuidados de uma UTI. Durante todo o tempo ele acompanhou tudo, decidiu. Não achava justo terminar os dias em uma UTI”, explica a companheira.

O velório de Naná Vasconcelos vai ser na Assembleia Legislativa de Pernambuco, no bairro de Boa Vista, a partir das 14h. O enterro será amanhã (10), no Cemitério de Santo Amaro, também no Recife.

 

Luto estadual

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), decretou luto de três dias pela morte do músico. Em nota, o governador lembrou a importância do percussionista. “Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que, com sua percussão inventiva e contagiante, conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”.

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