Durante toda sua vida, Naná Vasconcelos teve como força motriz a música, paixão que cultivou desde criança, utilizou como instrumento de entretenimento e transformação social e que o acompanhou até o último momento. Quem o conheceu diz que em sua cabeça, talvez mais do que qualquer língua, era através da musicalidade que os pensamentos pareciam fluir. E foi com um batuque discreto, mas poderoso, que o percussionista se despediu dos seus amigos e familiares. Internado no Hospital Unimed III, na Ilha do Leite, Zona Central do Recife, desde o dia 29 de fevereiro para tratar de um câncer de pulmão que foi anunciado pelo Facebook no dia 29 de agosto de 2015, por um amigo do artista, Naná Vasconcelos não resistiu e faleceu quarta-feira (9), às 7h39, depois de ter sido transferido da UTI para o quarto, na véspera, a segunda-feira, dia 7 de março.
No apartamento do hospital, o músico, muito fragilizado, não deixou, no entanto, de fazer o que mais lhe deixava feliz: criar. Ao lado dos amigos Egberto Gismonti e Gil Jardim, dava as diretrizes para projetos futuros, “tirando som” a partir de pequenas batidas na perna. “Quando ele foi transferido para o quarto, o quadro já era irreversível. A intenção foi deixá-lo confortável e junto aos seus. A força e a vontade de Naná de continuar produzindo até o fim eram impressionantes ”, disse o fotógrafo João Rogério Filho, amigo do percussionista.
No velório, ontem, na Assembleia Legislativa, muitos amigos e admiradores de Naná passaram para dar adeus ao mestre e celebrar o legado do pernambucano, entre eles Maestro Forró, Zé da Flauta, André Brasileiro e o Maracatu Nação Porto Rico, que homenageou o percussionista com batucada na área externa da Alepe.
A esposa e a filha de Naná, Patrícia e Luz Morena, bastante emocionadas, agradeceram o carinho que estavam recebendo e ressaltaram o peso da passagem do artista tanto para a família, quanto para a cultura. “A missão dele era se preocupar com o futuro das crianças, transmitir a musicalidade. Vai ser muito difícil (viver sem ele)”, enfatizou a viúva. Inclusive, essa preocupação de Naná com o ensino da arte como forma de mudar a realidade social, em especial de crianças de comunidades pobres, estava presente em muitos dos depoimentos dos presentes no velório, como o músico Bacalhau, que ressaltou a generosidade do mestre em partilhar seus conhecimentos e incentivar o crescimento daqueles ao seu redor.
Como não poderia deixar de ser, a despedida do percussionista foi marcada por música e um sentimento coletivo de que, apesar da dor, era necessário celebrar o legado de Naná. Artista multitalentoso, respeitado mundialmente, porém um “Brasil que o Brasil não conhecia”, como ele mesmo dizia.
O prefeito Geraldo Julio afirmou que era preciso manter vivo o trabalho de Naná de unificação das nações de maracatu e divulgar e preservar a cultura do Estado. Responsável pela abertura do Carnaval do Recife há 15 anos, Naná deixará um espaço difícil de ser preenchido.
Nesta quinta-feira (10), às 9h, será realizada missa na Alepe, seguida de cortejo acompanhado pelas nações de maracatu até o cemitério de Santo Amaro, onde Naná será enterrado. “Vamos celebrar o maior percussionista do mundo”, conclamou Mestre Shakon Viana, da Nação Porto Rico.
Acompanhe as homenagens na despedida: